quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Cães de raça estão morrendo cedo, e só os criadores podem mudar isso

Acabo de ler um texto da expert Carol Beuchat, fundadora do Institute of Canine Biology, que resolvi traduzir pra que essa informação alcance mais pessoas. É uma informação especialmente muito importante para criadores de cães.


Se foi cedo demais? Já basta. 

Minutos atrás, meu amigo acabou de perder o amado cão para o câncer. Aos 7 anos de idade. Isso é apenas metade de uma vida para um cão.

É devastador. Pior ainda, para esta raça (Flat Coated Retriever) tornou-se previsível. Cada proprietário desta raça sabe que há uma boa chance de que exista uma bomba relógio no cão da família.

Eu operei meu pulso direito na semana passada e é difícil para escrever, ou eu, sem dúvida, colocaria pra fora outro discurso como o que escrevi sobre Dobermans caindo mortos, há algumas semanas. Eu não posso fazer isso hoje. Mas ainda tenho algo a dizer.

Criadores provavelmente vão declarar que estão determinados a derrotar esse câncer. Eles vão pagar por mais pesquisas sobre tratamentos, eles vão financiar pesquisas para os genes problemáticos, eles vão apoiar estudos que esperam identificar fatores ambientais que podem estar envolvidos. Até agora, nós não aprendemos nada que vá reduzir a probabilidade de um cão ser diagnosticado com câncer nos seus primórdios, nesta raça ou em qualquer outra. O problema é simples. Endogamia (Inbreeding) e perda da diversidade genética necessária para produzir cães saudáveis. Nós quebramos o cão.

Aqui está a verdade. Nós não precisamos de mais pesquisas sobre o câncer. Nós gostaríamos que o câncer fosse uma daquelas coisas que nunca temos que nos preocupar, como pegar uma doença de pele de um camelo. Você não deveria ter que saber nada sobre câncer se você quiser trazer um novo cão para sua família e, de fato, o proprietário de um animal de estimação em geral não sabe. Mas os criadores sabem com certeza. Ele (o câncer) "vem com a raça".

Quando vamos declarar que já basta? A endogamia (inbreeding) está matando nossos amados cães de raça pura, em dezenas de formas específicas conforme a raça. Como é possível que, fazer algo para corrigir isso, seja pior do que a dor de centenas de corações partidos? Como podemos afirmar que somos criadores "responsáveis" mas não ficamos horrorizados com o fato de que podemos predizer a morte prematura dos cães que criamos?

Algo está muito, muito errado quando o que precisa ser feito é tão óbvio, mas "boa sorte para conseguir que os criadores façam isso". Os cães escolheram se juntar a nós dezenas de milhares de anos atrás, em uma parceria notável. Cães são verdadeiramente um presente de Deus para a humanidade. Se não fosse por eles, a trajetória da civilização seria muito diferente. O que seria de nós sem cães? Como seria sua vida sem cães?

Eu estou muito, muito triste. E muito, muito brava. Todo mundo oferece condolências. "Eles nunca ficam conosco o tempo suficiente", e "Eu sinto sua dor", e "Lembre-se das memórias maravilhosas". E eu também sinto muito, muito mesmo. Mas caramba, ISSO NÃO ESTÁ CERTO.

Apenas os criadores podem corrigir isso. Já basta. Façam algo.

Descanse em paz, doce Fabes. Nós TEMOS que fazer melhor. ISTO NÃO É CERTO. Eu não vou deixar que te esqueçam.


Por Carol Beuchat PhD - Institute of Canine Biology


O texto original se encontra nesse link:

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A despedida nunca é fácil

Estive distante novamente, pra variar sem ânimo pra escrever sobre os temas complicadinhos que eu costumo gostar de abordar (que aguardam sua vez em uma listinha que faço dos assuntos interessantes que penso serem muito válidos pra colocar aqui). Meu último post aqui foi sobre o Holistipet, dia 16 de Abril. Pois é, aí fiquei doente (com chikungunya) bem na semana do Holistipet, nem consegui acompanhar todo o Congresso conforme gostaria, mas como fica tudo disponível online, não perdi nada!! Fica aqui a dica pra quem perdeu: é possível comprar ingresso e ter acesso a todo o conteúdo, vale a pena!

Hoje não vou falar sobre nada complicado, mas sobre algo difícil por ser doloroso. Há quem pense que a gente que tem muitos cães, não sente quando partem, ou que sentimos menos. Sabe que eu até gostaria de ter certa frieza pra não sofrer nem chorar, mas acho que se alguém chega a esse ponto, sequer merece ter um animal de estimação. Eu tenho cães porque os amo. Sou completamente apaixonada por eles e quero o melhor pra cada um. Acho que nunca vou me "acostumar" com a despedida, e acho que assim é melhor, pois é sinal de que eu continuo amando-os infinitamente.

Hoje às 3 horas da manhã eu chorava como choro agora. Hoje a Farah (Brenda von der Nahmisté) morreu. Ela foi a Pastor Alemão mais doce que eu já tive, e arrisco dizer que foi a pastora que mais gostava de mim (e acho que por isso eu gostava tanto dela, minha "Farofa" ou "Farofí-Farofá").
Não foi inesperado, não me pegou de surpresa, mas dói. De certa forma sinto alívio por ela e pela homeopatia terem me dado o privilégio de não vê-la sofrer quase. Isso é uma bênção.
Ela já vinha mostrando sinais de senilidade, como fraqueza e pouca atividade, mas estava bem. A fraqueza se intensificou nos últimos dias e passava mais tempo deitada. Até anteontem comeu normalmente e se levantava. Ontem ela ficou realmente ruim, não se levantou, não quis comer, não quis beber água, só me olhava. O olhar aflito deu lugar a um olhar sereno logo após medicá-la (com homeopatia, sem stress, sem picadas, sem dor), e isso me confortou muito. Passou o dia quieta, calma, deitadinha. Sabíamos que a hora dela partir estava próxima, que a energia vital dela estava quase acabando. E de madrugada ela se foi. Descanse em paz.


sábado, 16 de abril de 2016

Holistipet - Congresso online sobre cuidados naturais para pets, acessível a todos!

Hoje vim apenas para fazer uma recomendação:

se inscrevam, assistam e participem do HOLISTIPET!

Começa na próxima terça-feira, dia 19 de Abril de 2016


Já faz algum tempo que trato meus cães de forma mais natureba: dou comida caseira balanceada (desde Agosto de 2004) e sempre prefiro tratamentos mais naturais e menos agressivos, além de praticar protocolos vacinais individualizados.
O resultado é visível: mais saúde e resistência a doenças, além de recuperação muito mais rápida quando algo acontece. Me importo muito com qualidade de vida e manutenção de uma boa saúde, e o manejo mais natural dos meus bichos vem me mostrando uma enorme (e positiva) diferença nesses quesitos.

O Holistipet terá palestras ministradas por profissionais que eu admiro e respeito. É por isso que eu me inscrevi logo que abriram as inscrições, e recomendo a todos os proprietários, criadores e veterinários. Afinal, SEMPRE temos algo a aprender!

Mesmo que você não seja familiarizado com esse universo holístico, que tal dar uma chance para aprender coisas novas e enxergar saúde e bem-estar animal por outra perspectiva?

O Holistipet é um congresso online sobre medicina integrativa e cuidados holísticos para cães e gatos, aberto ao público em geral (inclusive proprietários e criadores). A inscrição custa 200 reais. Pode parecer muito dinheiro, mas não é, pois é muito conhecimento e aprendizado!!! São mais de 25 palestras, com 22 palestrantes, em 7 dias de evento. Após cada palestra haverá chat online ao vivo para tirar dúvidas ou fazer mais perguntas. E se você não puder assistir alguma palestra, pode ficar tranquilo, pois as palestras ficarão disponíveis e você poderá assistir quantas vezes quiser e quando quiser, no período de 1 ano.

Para conhecer os palestrantes, visite essa página:

Para ver a programação, aqui:


Obs: Não, eu não estou ganhando nada, nem minha inscrição, para fazer essa propaganda. Estou divulgando porque realmente acredito que o Holistipet será imperdível e trará muito conhecimento, capaz de mudar para melhor a vida de muitos cães e gatos.

terça-feira, 12 de abril de 2016

A verdade sobre o "adestramento 100% positivo"

Sem inspiração pra escrever muito, nem traduzir longos textos (estou com vários posts e assuntos em rascunho, mas não estão saindo por causa disso... desculpem), então hoje irei apenas deixar um vídeo de 50 minutos e um texto, ambos em inglês, para aqueles que dominam o idioma (quem não domina consegue entender e acompanhar também, com boa vontade, usando a pausa do vídeo e com a ajuda de um tradutor, certamente dá pra captar a mensagem). O título dessa postagem é o mesmo título do vídeo.

É um tema polêmico (pra variar) sobre o qual eu tenho vontade de falar quase sempre, mas é extremamente complicado e delicado de abordar quando a conversa é com alguém que não foi educado a usar adequadamente todas as ferramentas de treinamento disponíveis, e principalmente que se deixa levar pelo marketing mentiroso de muitos adestradores "positivistas".

O vídeo e texto abordam exatamente isso, como esse slogan do positivismo muitas vezes é mentiroso e o quão perigoso pode ser quando aplicado por pessoas despreparadas.

Eu (e tantos excelentes treinadores que conheço) uso tanto reforço positivo quanto, ou se bobear até mais que muito "positivista" que já vi por aí. E muitos que se autointitulam positivistas usam tanta punição positiva quanto, ou até mais, que os demais, como o vídeo abaixo mostra claramente.

O que acontece é que manipulam todo um discurso de forma a associar a punição positiva a abuso / força / brutalidade (são coisas completamente diferentes!!!) e também (especialmente) a determinados equipamentos de treino que usamos. Mas a grande verdade é que abusar (no sentido de maltratar) não depende de equipamento nenhum, mas sim de intenção/vontade (e caráter, claro).
O colar eletrônico é um belo exemplo disso. Um equipamento altamente versátil e extremamente eficiente seja pra excitar, como marcador de comportamentos desejados (siiim, marcador de comportamentos desejados, sem murchar o cão, pelo contrário!), ou pra corrigir de forma clara e pontual (sem qualquer dano e geralmente com muito menos stress do que de outras formas), mas que normalmente tem seu uso associado exclusivamente a punição no sentido de abuso (punição dolorosa, cruel), o que só vai acontecer se o operador do equipamento tiver más intenções mesmo. Tem gente que é totalmente contra o colar eletrônico, mas que faz uso de golpes físicos para punir excessivamente (abusar). Já vi "treinadores" perderem a cabeça e aplicarem punições totalmente descabidas e desproporcionais com os mais variados equipamentos e sem nenhum, mas sim com as próprias mãos e pés. Portanto, assim como o estímulo, a punição ou até o abuso podem vir através de um colar, o estímulo, punição ou abuso também podem vir diretamente pelas mãos, sem o uso de equipamentos... depende apenas da vontade de quem está trabalhando/treinando aquele cão.

Como EU, na minha "santa ignorância", já estive do lado de lá, criticando o uso de equipamentos que eu NÃO CONHECIA DE VERDADE (quando conhecia, só conhecia o MAU USO deles), sei que não adianta discutir e muito menos empurrar goela abaixo coisas que só o interesse em aprender, a vivência e o conhecimento nos ensinam. Como fazer pra quebrar pré-conceitos eu não sei, mas o interesse em aprender quase sempre se molda e limita conforme os nossos pré-conceitos.... e se não há interesse, não haverá aprendizado. Mas eu espero, de coração, que todos possam aprender, cada um no seu tempo, a usar adequadamente o equipamento ou técnica que forem mais adequados a cada caso, e a trabalhar qualquer cão, de qualquer temperamento e idade, estragado ou não, sem lhe causar danos (muito menos a morte ou indicação a eutanásia) e sem colocar pessoas em risco.

O texto que complementa o que mostra o vídeo está nesse link:
https://www.dogtraining.world/criminal-acts-positive-dog-training-community/

E o vídeo:

domingo, 27 de março de 2016

Cães de trabalho e linhagens (exposição x trabalho)

Eu falhei (não escrevi no blog semana passada!), mas voltei. Já aviso que vou escrever de um jeito informal, pra tentar me fazer entender da melhor forma possível.

Pra variar, na correria, decidi o tema de última hora. Mais uma vez me deparo com anúncio de venda de filhote (no caso era de Dobermann) com a descrição contendo "linhagem de trabalho", sendo que tudo indica que a linhagem nesse caso era 100% show / exposição. Eu cheguei a perguntar, na publicação, se era mesmo linha de trabalho e quem eram os avós (pra quem conhece bem pedigrees e nomes de canis, geralmente fica fácil saber qual a linhagem pelos nomes de registro), mas a pessoa simplesmente deletou meu comentário, sem responder. Então só me resta concluir que não se tratava de engano ou confusão, mas de propaganda enganosa, não é mesmo?

É relativamente comum as pessoas se enganarem ou se confundirem com os nomes dados às linhagens, quando se baseiam somente em verificar títulos. Há quem acredite que ter título de trabalho é sinônimo de ser de linhagem de trabalho, e que ter título de beleza / exposição é sinônimo de ser de linhagem de exposição. ERRADO!!! 

Quando falamos de determinada linhagem ou linha de sangue, nos referimos à genética / pedigree / árvore genealógica daquele exemplar, mais especificamente sobre o foco de seleção ao qual a genética daquele indivíduo foi submetida, e não quanto às suas habilidades.

Qualquer pessoa que tem um cão que treina ou compete em provas de trabalho, pode dizer que tem um cão de trabalho, mas linha de sangue / linhagem de trabalho são outros 500 (depende da árvore genealógica / genética daquele indivíduo).

Devido à seleção na criação, as raças acabam tendo uma separação de "tipos", e em diversas raças de cães existem distintas linhagens de show / exposição e linhagens de trabalho. O que significa isso?
Uma vertente se preocupa prioritariamente com a aparência / estrutura (por exemplo: cor da pelagem, angulações, profundidade do peito, etc.), com o objetivo principal de vencer exposições de beleza e conformação, e a outra vertente se preocupa prioritariamente com o caráter / temperamento, no sentido de possuir habilidades para realizar a função à qual aquela raça foi criada (ou competir em provas de trabalho).

Infelizmente não é possível ter tudo junto, quando se quer ter tudo (podemos comparar com gado de dupla função), podemos até conseguir ter o cão que é bom em ambos quesitos, mas jamais será excelente nos dois, e muitas vezes a estrutura que se busca pra vencer exposições pode até mesmo atrapalhar ou ser prejudicial ao trabalho / função (por exemplo: cães extremamente angulados, que "voam na pista" ao trotar se apresentando em exposição, geralmente são desengonçados para correr em galope e podem ter dificuldade para saltar, isso pode ser notado facilmente na raça Pastor Alemão).

Em geral os cães de linha de trabalho não são tão bonitos, mas a beleza deles está exatamente na aptidão ao trabalho, por isso que quando queremos mostrar o melhor dos nossos cães de trabalho, mostramos vídeos. Determinação, impacto, tenacidade... tudo isso exige movimento, ação, ou nossos olhos podem ser enganados. É por isso que cães de trabalho geralmente não têm tantas fotos "em pose", mas sim fotos variadas 'em ação', e que o desejo maior dos apreciadores desses cães é por vídeos do que por fotos.

Fotos servem principalmente para ver estrutura, e por isso os cães de exposição são muito mais mostrados sempre com fotos e poses dignas de capa de revista. O melhor deles é sua beleza, e por isso o "desejo" maior dos seus apreciadores é por fotos em "stay".


Transcrevo abaixo, com alguns ajustes, textos que escrevi já faz mais de dois anos (em 14/Jan/2014), durante uma discussão em rede social. Falo basicamente o que eu penso mas creio que explica um pouco melhor sobre o que é criar com foco em temperamento:

Eu me preocupo com cães dentro do padrão, inclusive em relação ao temperamento. O que poucos sabem é como se avaliam esses adjetivos usados pra descrever o temperamento no padrão, tanto que escrevi um texto especificamente pra falar disso (http://doberman.com.br/site/t_temper.html).
Achar que temperamento se resume a drive (ou que quem treina acha que se resume a drive) é coisa de quem não sabe avaliar temperamento e nem para que servem as provas de trabalho, muito menos o que está embutido na execução de cada exercício. Não é só o morder, é como morde e por que aquele exemplar morde daquela forma. Não é só o correr, é como corre, em qual velocidade, e principalmente o que isso significa. O significado da forma de executar cada etapa é que fala sobre o temperamento, não o fato de executar ou não.
A descrição do temperamento se resume a um parágrafo do padrão, mas simboliza 50% de um cão de verdade. E falta saber enxergar o que as palavras contidas ali significam, pra então entender a importância delas.

Outra questão interessante é que há diversos cães com características que fogem do padrão, vencendo exposições, e consequentemente essas características passam a ser encaradas como o "correto" para quem participa. Vejo olhos incorretos, e peitos, e pescoços.... mas temos que lembrar que um arbitro julga o conjunto e o compara com os demais ali presentes e não só com o padrão, para poder premiar, e ainda assim, um toque de gosto pessoal sempre está envolvido, portanto também não dá pra crucificar os envolvidos. Mas, com isso, caímos na armadilha de não saber mais apreciar o correto de verdade, ou o quase correto que seja.

Eu já fui da opinião "se eu posso ter um cão bonito e de excelente temperamento, pra que vou querer um feio?", quando conheci a aparência em geral dos cães de linha de sangue de trabalho (portanto não conheci o melhor deles), enquanto só tinha contato com cães de linhagens show (que eu considerava terem "excelente temperamento" dentro do meu limitado conhecimento e referências).
Depois de entender a (enorme) diferença de temperamento entre eles, eu passei a ver menos beleza em cães "apenas belos". Percebi como minha percepção e opinião haviam mudado em um momento específico, quando assisti um vídeo. Explico: havia um cão que eu achava maravilhoso, muito mesmo, era fã dele, o achava o máximo, até que encontrei um video dele em ação (em prova de IPO, na qual ele foi aprovado, pois obteve pontuação suficiente para tal). Simplesmente perdeu o encanto mesmo com toda aquela beleza... ele executava de forma tão "meia-boca", que foi uma decepção enorme pra mim. Mas foi também um aprendizado e "divisor de águas", ali eu descobri que um temperamento mediano-fraco torna o cão "mais feio" pra mim, sendo ele belíssimo de estrutura ou não, tendo títulos (inclusive de IPO) ou não.

As raças foram criadas e desenvolvidas conforme suas funções, portanto se um cão cumpre excelentemente bem sua função, ele tem estrutura apropriada. Ponto final!
É mais fácil do que vocês imaginam ver cães que alguns chamam de "estruturalmente corretos" com problemas pra trabalhar (se considerar falta de aptidão mental / de temperamento, pior ainda). Isso porque o padrão que vence exposição, ou que tem mais chances de, não é mais aquele descrito no padrão... 

Eu só falei tudo isso para que saibam que o fato de eu gostar de cães de trabalho (e de linhagem de trabalho) não ocorre porque sou cega ou trouxa (sei que ninguém falou isso, mas vai que pensou? hehehe). Eu gosto e já ha algum tempo os prefiro por motivos muito bem fundamentados, e sei muito bem o quão "feios" eles são frente aos demais. Mas eles são maravilhosos na sua essência, e só quem treina e convive com um cão de bom temperamento e grande aptidão para o trabalho entende isso.

E termino por aqui. Se você teve paciência de ler tudo, me conte o que achou :)
Um grande abraço e boa semana!



domingo, 13 de março de 2016

Linhagem de trabalho e linhagem de exposição: quão significantes podem ser as diferenças entre elas?

Mais cedo eu estava aqui, limpando a casa, sem saber o que postar no blog essa semana. Recebi ótimas sugestões mas são temas mais "trabalhosos" e esses eu deixo pra quando tiver mais tempo (e inspiração), que não é o caso de hoje nem dos últimos dias. Almocei e vim ao computador pra descansar um pouco do trabalho braçal quando... tcharam!!! Eis que surge no meu feed do facebook um compartilhamento de um trabalho muitíssimo interessante, tema mais do que oportuno para falar sobre:

Fadel, F. R. et al. Differences in Trait Impulsivity Indicate Diversification of Dog Breeds into Working and Show Lines. Sci. Rep. 6, 22162; doi: 10.1038/srep22162 (2016).

O trabalho pode ser acessado nesse link: http://www.nature.com/articles/srep22162

Pra resumir, vou citar trechos que achei mais relevantes (ao final transcrevi os trechos em inglês):

O estudo avaliou diferenças comportamentais entre linhagens show (de exposição) e de trabalho nas raças Border Collie e Labrador. Ele conclui que as diferenças entre raças são menores do que as diferenças entre linhagens, portanto as diferenças DENTRO da mesma raça são maiores do que as diferenças entre as duas raças. Sendo assim, generalizações baseadas na raça apenas não são apropriadas.

Em relação à linhagem, Border Collies de trabalho apresentaram diferenças de Labradores de trabalho, mas as linhagens show (exposição) das duas raças não tiveram diferenças significativas. Seleção artificial alterada ou relaxada para características comportamentais, quando a aparência ao invés do comportamento torna-se o foco principal para os criadores, pode reduzir diferenças médias de impulsividade entre raças nas linhagens show (de exposição).

Os resultados são consistentes com a hipótese de que a criação de linhagem show (exposição) resulta em uma perda significante da diversidade comportamental tradicionalmente associada a uma raça [...].

É inapropriado fazer previsões sobre a tendência comportamental de um indivíduo canino baseando-se apenas em sua raça.


Os resultados sugerem que, no quesito comportamento, escolher a certa LINHAGEM / LINHA DE SANGUE dentro de determinada raça pode ser mais importante do que escolher apenas pela raça.


Embora o estudo tenha sido feito com as raças Border Collie e Labrador, quem (como eu) já conviveu com exemplares de linhagem de trabalho e de linhagem show, sabe que tudo isso faz muito sentido. E é por isso que a MINHA ESCOLHA hoje é linhagem de trabalho.

Muita gente, ao procurar exemplares de determinada raça, pesquisa apenas preço e/ou aparência (maior, mais fortão, mais escuro), dando pouco ou até nenhum valor pro comportamento/temperamento.

A grande maioria dos criadores, por sua vez, descreve seus cães como possuidores de "excelente temperamento". Excelente pra que? Excelente pra quem?

Não foram poucos os que nos procuraram decepcionados com o temperamento de exemplar adquirido de outro canil. Esses normalmente chegam querendo o filhote de temperamento mais forte... só que nossa seleção é focada em temperamento e criamos exclusivamente com linhas de trabalho, completamente diferente da seleção feita e linhagem usada pela maioria dos criadores. Então nossos filhotes mais "fracos" muitas vezes se mostram muito melhores no quesito comportamento/temperamento do que o dito "melhor" (de temperamento) de outra criação, claro, quando o objetivo do proprietário inclui habilidade para o trabalho.

Como bem cita o estudo que originou essa postagem, as diferenças entre o temperamento/comportamento de cães de linhagens de trabalho e show da mesma raça são muito grandes, parecem mesmo raças diferentes.

Cão perfeito em todos os quesitos e pra todos os gostos NÃO EXISTE. Existe sim, cão perfeito pra determinado dono ou determinada função/finalidade. O que o criador x considera perfeito pra ele, pode ser interessante mas não ideal na opinião do criador y, mas péssimo pra mim, e vice-versa.

Por isso é muito importante pesquisar e principalmente saber o que você procura. Quem sabe o que procura não se baseia apenas em opiniões, mas consegue distinguir o que procura e o que não procura com os próprios olhos. Até porque opinião é algo muito pessoal. Cada pessoa tem uma opinião e entendimento das coisas conforme as experiências já vividas. Formamos nossas opiniões e fazemos escolhas baseadas basicamente nas nossas referências, referências essas que dependem das experiências vividas e da forma como foram assimiladas. Nem todo mundo (na verdade acho que quase ninguém) consegue adquirir boas referências e olho crítico "de longe", apenas assistindo a vídeos e lendo textos (ahhh os teóricos... hahaha). Sem praticar, sem acompanhar de muito perto, sem sentir na pele, é impossível aprender certas coisas --- e conheço gente que nem assim consegue "captar a informação". Desconfie de quem opina sobre algo que nunca fez, talvez essa pessoa nem saiba exatamente do que você está falando (mas se você também não souber, complica né?) ou de quem opina sobre o que nunca teve (soube de vários casos em que falaram mal de cães de linhagem de trabalho, pessoas que nunca conheceram um sequer, quem dirá um número decente pra se formar opinião....).

Tenha ciência de que não é simplesmente por ser um Dobermann (ou qualquer outra raça "de guarda"), que será um bom cão de guarda. Além da escolha (é preciso avaliar cada indivíduo pois, na prática, generalizações não são confiáveis) e do manejo adequados, a genética (linhagem) tem papel muito importante no que se refere ao potencial do indivíduo.

Enfim, esse era o recado que eu queria dar.
Até semana que vem!

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"We found that differences between the breeds Border Collies and Labrador Retrievers are smaller than the differences between their show and work lines. Although the statistically significant differences were based on small effect sizes, the fact that the differences WITHIN breeds exceed the differences BETWEEN breed is important given practical and legal implications of breed stereotyping. Our results show that generalizations based on breed are not appropriate."

"Regarding line, working Collies differed from working Labradors, but show lines from the two breeds were not significantly different. Altered or relaxed artificial selection for behavioural traits when appearance rather than behaviour become the primary focus for breeders may reduce average differences in impulsivity between breeds in show lines."

"These results are therefore consistent with the hypothesis that the creation of a show line results in a significant loss in behavioural diversity traditionally associated with a particular breed with regards to work related behaviour."

"is inappropriate to make predictions about an individual dog’s behavioural tendency solely based on its breed"

"Our results suggest that choosing the right line of dog within a breed may often be a more important factor when considering behaviour."

Fadel, F. R. et al. Differences in Trait Impulsivity Indicate Diversification of Dog Breeds into Working and Show Lines. Sci. Rep. 6, 22162; doi: 10.1038/srep22162 (2016).

http://www.nature.com/articles/srep22162

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segunda-feira, 7 de março de 2016

Kefir - o que é e como fazer

Quaaase fico sem postar essa semana! Ando exausta, mas pra não falhar aqui no Blog decidi apresentar o Kefir pra quem não conhece.

Kefir de leite é uma colônia de bactérias e leveduras do bem, que fermentam leite, produzindo um super alimento probiótico (tipo um iogurte).

Em geral chama-se de Kefir tanto os próprios grãos, quanto o leite fermentado por eles, mas pra não confundir aqui, irei chamar os grãos de "Kefir" e o leite fermentado pelos grãos de "leite kefirado".

Segue o passo-a-passo de como cuidar / fazer:

Foto 1 - Grãos de Kefir na peneira, assim lindos porque tinha acabado de lava-los em água filtrada, especialmente pra fotografar. Quando o leite kefirado está ficando ácido demais, lavar os grãos pode ajudar (ou então diminua a quantidade grãos em relação ao leite, ou deixe menos tempo fermentando), mas atenção: lavá-los com frequência não é indicado e pode até matá-los.


Foto 2 - Coloque os grãos de Kefir em um pote ou copo, conforme a quantidade de leite kefirado que deseja fazer. A medida pra fermentar em 24 horas é de aproximadamente uma colher de sopa de grãos para 500ml de leite, ou uma colher de chá de grãos para um copo de leite, mas isso pode variar dependendo do clima / temperatura ambiente. Se quiser fermentar em menos tempo, coloque mais grãos pra menos leite.


Fotos 3 e 4 - Adicione o leite (uso integral) aos grãos de Kefir. Nas fotos, coloquei 1 litro de leite com 2 colheres de sopa de grãos de Kefir.



Foto 5 - Fecho o pote com tampa plástica (se fizer em copo tampe com um pano, mas jamais deixe aberto) e deixo em cima da geladeira. O Kefir gosta de temperatura ambiente, com calor demais (leite morno ou quente) ele morre, e com frio demais (geladeira, congelador) ele "adormece".


Foto 6 - Passadas 24 horas, temos o leite kefirado, isto é, o leite fermentado pelos grãos de Kefir!


Foto 7 - Mostando a consistência... sempre mexa antes de coar, facilita muito.


Foto 8 - Coloque na peneira e coe os grãos de Kefir.


Foto 9 - Separando os grãos de Kefir do leite kefirado, que é o leite após fermentação.


Foto 10 - Grãos de Kefir coados, prontos pra voltar ao pote e fermentar mais leite!


Foto 11 - Grãos de volta ao pote, agora é só adicionar o leite novamente.
Eu não lavo o pote todos os dias, faço 3 a 4 trocas sem ficar lavando o pote, numa boa.


Foto 12 - Leite com grãos de Kefir no pote fechado. Mais 24h e o ciclo se repete.


Foto 13 - Esse é o Leite Kefirado, o que foi coado dos grãos. Guarde na geladeira pra consumir depois, ou consuma logo após coar. É saudável pra nós e também para cães e gatos! É super nutritivo e faz muito bem pra flora intestinal. Meus cães ganham leite kefirado no mínimo 3x por semana.


Foto 14 - Mas e quando você já tem muito Kefir e quer dar uma pausa na produção? Ou quando sabe que terá dias corridos e não vai ter tempo pro Kefir? É só guardar na geladeira!!! 
Depois de coar, coloque os grãos em um recipiente limpo...

Foto 15 - ... cubra com leite o suficiente pra cobrir os grãos (e assim mantê-los hidratados).


Foto 16 - E coloque na geladeira! Se quiser fazer uma pausa mais longa do que alguns dias, basta CONGELAR, que os grãos se mantêm firmes e fortes por meses a fio.


Foto 17 - Essa é forma como eu dôo grãos de Kefir.
Aos poucos os grãos vão crescendo, se multiplicando, e se não aumentar a quantidade de leite, vai fermentar o leite cada vez mais rápido, então, assim que chegar na quantidade que você deseja fazer de leite kefirado (1 copo/dia, 1 litro/dia...), o que fazemos é separar o excesso de grãos pra doar aos amigos! Kefir NÃO SE VENDE! Coloco 2 colheres de chá de grãos em saquinho zip-lock e congelo.
Pra se ter ideia, comecei a "cultivar" Kefir em Dezembro de 2014 com menos de 1 colher de chá de grãos, e hoje tenho grãos pra doar sempre.


Foto 18 - Sugestão: leite kefirado com granola, pra consumo humano. Pode consumir de vários jeitos, é como um iogurte, mas com função probiótica muito melhor!!! Batido com frutas, apenas com açúcar, enfim.... ele puro tem sabor azedinho-ácido, tipo coalhada, mas açúcar ou qualquer coisa açucarada disfarça super bem!



E é isso! Quem for de São Paulo e quiser "adotar" grãos de Kefir, é só me escrever e vir buscar!


Pra quem tiver quaisquer dúvidas extra sobre o Kefir, pode me perguntar, mas recomendo muito dar uma olhada no blog Kefir Alimento Probiótico, é excelente e recheado de informações:

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Puppy Culture

Hoje a filhotada aqui está com idades muito legais, embora dando bem mais trabalho: os mais velhos estão completando 37 dias de vida e os mais novos estão completando hoje 3 semanas ou 21 dias de vida.

No ano passado, ao ler o excelente artigo Fading Puppy Syndrome de Jane Killion, descobri o Puppy Culture. Curiosa e empolgada com os relatos de outros criadores de todo o mundo, adquiri o filme no início desse ano para me preparar antes de chegarem as ninhadas. Com a alta do dólar, o filme custou bem caro, mas ele vale cada centavo!!! Pra quem tiver interesse, saiba que entender inglês é imprescindível, já que o filme não tem legenda e é todinho em inglês. A boa notícia é que tendo o nível básico de inglês já é suficiente, pois a pronúncia é bem clara.

Puppy Culture é um filme (muito bem) elaborado por Jane Killion, americana, treinadora e criadora de Bull Terrier. O filme descreve e explica diversos fatores envolvidos em todas as fases de desenvolvimento do filhote, desde a gestação, e propõe um protocolo fantástico de manejo para cada uma dessas fases, com maior ênfase na fase crucial de sociabilização, que começa quando os filhotes começam a ouvir (geralmente perto de 21 dias de vida) e termina por volta da 12ª semana de vida. 

Parte do que o filme propõe eu já fazia (como por exemplo produzir diferentes e inesperados barulhos tão logo começam a ouvir), mas tem muito mais.
Eu estou absolutamente encantada com os resultados que venho tendo com meus filhotes.
Em alguns dias de condicionamento, com 35 dias de vida eles já sabiam que deveriam sentar, e não pular em mim, para ganhar atenção. Eu sinceramente não sabia que era possível modelar o comportamento de filhotes de apenas 4 semanas de vida.
Recomendo muito para qualquer pessoa que tenha que lidar com filhotes de qualquer idade, pois o filme traz dicas e informações que abrangem todas as fases e podem ser aplicadas também em filhotes mais velhos, sem falar no conhecimento científico que proporciona.

Aqui está um vídeo com trechos que filmei enquanto ensinava o "manding" aos filhotes:

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Minha trajetória e o que é um criador sério e ético

Eu não sou, nem nunca fui, o exemplo ideal de criador. Na verdade me faltam principalmente recursos financeiros pra fazer tudo o que eu gostaria e penso ser ideal, mas, ainda assim, estou conseguindo cada vez fazer mais e melhor, dentro das limitações que a vida me impõe.
Comecei como a maioria dos criadores: adquiri uma filhota com pedigree e comecei a criação ao acasalar essa cadela. Embora eu não tenha tido orientação adequada quanto aos exames de saúde (afinal, se ninguém fazia, como que iam me dizer pra fazer? rss), eu até que não comecei mal: esperei minha cadela amadurecer e só a acasalei aos 3 anos e meio, e escolhi um macho muito bom dentro do meu limitado conhecimento (era vencedor em exposições, vinha de linhagem de cães vencedores, filho de importado, aquela coisa toda que deixa qualquer iniciante deslumbrado).

Definir um acasalamento só pela beleza dos cães e de seus pedigrees já é uma besteira, mas já fiz muitas outras também. Acasalei 2 fêmeas minhas com menos de 2 anos, mais especificamente perto de 1 ano e meio, e me arrependi (ainda bem que isso foi ha mais de 13 anos atrás). Definitivamente uma cadela não tem maturidade (não está "pronta") pra criar uma ninhada com essa idade. E ultimamente eu tenho visto cadelas parindo com 1 ano de idade ou perto disso, e com frequência. Socorro! Cadê o bom senso de quem "cria" e de quem compra tais filhotes? É como falar desses criadores de fundo de quintal, que mantém os cães engaiolados e imundos: eles só existem e continuam fazendo dessa forma porque tem mercado pros seus "produtos". A culpa não é apenas de quem "comete o crime", mas de quem o mantém ativo. Não adianta você fazer campanha pelo bem-estar, se financia a exploração.

Aos poucos fui começando a fazer exames no meu plantel. Comecei pelo laudo de displasia coxofemoral, com cães na época já adultos e que já tinham reproduzido, mas antes tarde do que nunca, não é mesmo? Descobri que eu havia reproduzido uma cadela displásica (isso mesmo) por ignorância e ingenuidade (por sorte o "par" era isento, mas e se não fosse?). Não fui orientada e segui a "tradição" brasileira de criar cães só pelo critério da aparência. O que contribuí para a raça dessa forma? NADA. Meu recado: quem acasala cães por acasalar, mesmo que cuide muitíssimo bem deles e até tendo pago pequenas fortunas pra adquiri-los, não está contribuindo NADA. Está fazendo nada mais do que um desserviço à raça.
Eu comecei a fazer exames, eu fui atrás de genética diferenciada, eu estudei mais genética (não só pedigrees), mudei todo o meu conceito em relação ao manejo (especialmente nutricional) e aqui estou eu, finalmente com a sensação de estar no caminho certo dentro daquilo que almejo.

Resumindo, eu tropecei muito pra aprender o que ninguém havia me ensinado. Sofri demais vendo cães com problemas de saúde que provavelmente poderiam ter sido evitados. E foi principalmente por esse motivo que eu mudei completamente o rumo da criação duas vezes e que venho trilhando um caminho cada vez mais "natureba" em relação ao manejo.

É preciso fazer mais popular a cultura do critério na criação, dos exames pra doenças hereditárias, e da responsabilidade do criador pelo que cria. Quem sabe quando tivermos "compradores" mais exigentes, teremos criadores mais comprometidos, faremos novos criadores começarem certo, e conseguiremos acabar com criadores irresponsáveis ou ignorantes.

Vamos agora ao ponto:

QUAIS SÃO OS "SINAIS" PRA IDENTIFICAR UM CRIADOR SÉRIO E ÉTICO?

- Só acasala fêmeas com mais de 24 meses e machos com mais de 18 meses.

- Não acasala fêmeas por cios seguidos (normalmente "pula" um ou dois cios pra cada cio com acasalamento/ninhada) ou acasala no máximo por 2 cios seguidos (e isso somente quando a cadela está em excelente estado geral e o intervalo entre os cios não é curto - afinal há cadelas que têm cio a cada 4 ou 5 meses). Há exceções para alguns casos específicos em que realmente existe a orientação de, por exemplo, acasalar por até 3 cios seguidos e em seguida castrar, mas o criador deverá saber explicar os motivos com detalhes. Que eu saiba não existe justificativa nem nunca vi qualquer orientação para acasalar uma fêmea por mais do que 3 cios consecutivos.

- Só acasala cães com resultados satisfatórios em exames pra doenças hereditárias existentes na raça, especialmente aquelas doenças passíveis de serem detectadas antes da idade reprodutiva, como a displasia coxofemoral e displasia de cotovelos, por exemplo.

- Estuda genética e saúde/doenças incansavelmente (não entende somente de pedigrees/linhas de sangue), portanto entende a importância do coeficiente de inbreeding e calcula-o ao planejar qualquer acasalamento, evitando acasalamentos "fechados" (ou os faz somente em casos especiais, totalmente ciente dos riscos) e sabe explicar cada decisão tomada.

- Investe muito tempo (estudando, fazendo contatos, etc.) e dinheiro em genética de boa qualidade (adquirindo cães de boas linhagens, descendentes de exemplares com exames de saúde e comprovadamente longevos).

- Proporciona ao seu plantel: alimentação de qualidade, higiene, atividade física, contato humano (carinho, afeto) e atendimento veterinário sempre que necessário.

- Devido aos itens anteriores, normalmente não tem lucro com a criação, especialmente quando cria raça de porte grande ou gigante. Com sorte consegue cobrir as despesas, mas geralmente gasta mais do que ganha. Só continua criando se tiver um emprego / renda extra pra custear a criação, e claro, também porque realmente ama esse hobby, seus cães e a raça.

- Por tratar seu plantel com respeito e planejar a criação com a melhor das intenções, jamais esconde o histórico de sua criação. Divulga as ninhadas já nascidas e acasalamentos já feitos, assim como os frutos deles.

- Não tem pressa pra entregar o filhote, só libera filhotes após completamente desmamados, geralmente com a primeira dose de vacina (pelo menos), em ótimo estado geral.

- Cuida dos cães e filhotes de perto, com ajuda ou não, mas jamais deixa tudo nas mãos de funcionários. Conhece a fundo cada cão que possui, e é nítido o vínculo afetivo que cada cão demonstra pelo seu dono (no caso, o criador de cães). Não preciso nem dizer que quase sempre o criador mora no mesmo local onde tem os cães e a criação, né? Que entendam como "mora no canil" ou "tem o canil em casa", dá na mesma (mas lembre-se: se largar tudo nas mãos de funcionários e não lidar com os cães e filhotes, não faz diferença ele morar lá). Estrutura física (um grande canil com grandes instalações) nem sempre é atestado de qualidade ou seriedade, e vice-versa. Ter canil registrado já faz da pessoa um criador, e um bom criador pode ter poucos cães e tê-los como seus cães de família, na sua casa, sem nenhum problema, assim como pode ter instalações próprias para abrigar um número maior de cães.

- Proporciona o melhor ambiente possível para a matriz e seus filhotes. Começa o desmame cedo para não sobrecarregar a mãe, isto é, oferece alimentos aos filhotes tão logo eles mostrem interesse, deixando que a mãe amamente o quanto e por quanto tempo desejar. Desde o nascimento mantém os filhotes em piso com alguma aderência  (como carpete, tapete higiênico, toalha, piso de borracha, etc.) para que não fiquem escorregando, permitindo assim um melhor desenvolvimento das articulações e musculatura, além de incentivar e facilitar sua movimentação. Mantém as unhas dos filhotes sempre aparadas para que não machuquem a mãe (elas normalmente não se importam, mas se podemos evitar arranhões, cortes desnecessários e eventuais desconfortos, por que não?), para habituar os filhotes ao manuseio e não atrapalhar o correto desenvolvimento (já vi filhotes de 2 meses com unhas longas de tal forma que elas entortavam o dedo junto!). Além, claro, de dar especial atenção à fase crucial de sociabilização.

- Responde quaisquer perguntas sem melindres, se mostra sempre disponível e atencioso tanto antes quanto depois da entrega do filhote, e dá garantias por escrito (contrato).

- Assim como responde quaisquer perguntas, gosta de fazer perguntas aos interessados em filhotes, para assim tentar selecionar os melhores proprietários pra eles, na medida do possível.

- Identifica cada filhote nascido aos seus cuidados, seja através de tatuagem ou microchip. Dessa forma mantém um elo de ligação, possibilitando encontrar ou recuperar qualquer exemplar de sua criação que por acaso se perca ou seja abandonado por um proprietário que se revele irresponsável.

- É filiado a um ou mais clubes cinófilos e registra seus filhotes sempre antes dos 90 dias de idade. 

- Não vende e sim doa castrados os filhotes que eventualmente apresentem algum problema congênito.

- Ajuda e orienta na escolha e manejo do filhote. Mostra os pais e filhotes, e sempre tem vídeos e fotos deles. Se preserva ao máximo (hoje em dia há muitos roubos em canis) mas não esconde seus cães, pelo contrário, tem o maior orgulho deles.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

O que NÃO é um criador sério e ético

Hoje, muito cansada após cortar/aparar as unhas de 12 filhotes (depois de toda a rotina diária de cuidados e limpeza, e com muito ainda por fazer ao longo do dia), me peguei pensando no quanto eu (assim como outros criadores sérios e éticos) me esforço e o quanto isso é recompensador (me traz satisfação pessoal, sensação de felicidade)... mas, ao mesmo tempo, pensava na sacanagem que é ser comparada a criadores meramente comerciantes, ou até mesmo criadores que parecem sérios mas não se esforçam um décimo do que um Criador de verdade se esforça. Tenho visto tanta barbaridade (desde canis - às vezes até luxuosos e espaçosos - onde moram cães solitários e carentes de afeto, cadelas sendo acasaladas com menos de 1 ano e por cios seguidos, cães reproduzindo sem exames pra doenças hereditárias, até o pior do pior, aqueles que além de explorar os cães, ainda os mantêm em ambientes minúsculos, imundos e sem alimentação adequada) e conseqüentemente tanto equívoco em relação ao assunto, afinal a maioria das pessoas acredita que criador é tudo igual e só querem saber de ganhar dinheiro fácil. E foi então que resolvi escrever sobre esse assunto.

A criação de cães parece algo muito fácil. De fato, qualquer pessoa pode se entitular um criador de cães, afinal basta reproduzir uma cadela e registrar um nome de canil (para poder registrar os filhotes dessa cadela), para então ter filhotes com pedigree e puros (caso os documentos dos cães não sejam falsificados ou trocados).

Existem N tipos diferentes de criadores não confiáveis, mas alguns dos mais "disfarçados" e que enganam muita gente são esses:

- Os ingenuamente bem intencionados que acham que tudo é amor, que apenas cuidar bem e dar uma boa vida aos cães faz deles bons criadores, e portanto não há nada de errado em tirar ninhadas de sua cadelinha linda e bem cuidada pra vender seus filhotes. Errado. Cuidar bem faz deles bons proprietários (algo que todos os cães, de raça ou não, merecem), mas criar bem vai muito além disso.

- Os que acasalam cães com menos de 2 anos de idade, ou pior, acasalam cães com menos de UM ANO de idade, e ainda assim escrevem textos de amor e cuidado aos cães e à raça, relatam sua ansiedade, a concretização de um sonho, etc. Muito errado e triste. Isso é abuso, desrespeito, exploração. Se for uma cadela de raça grande ou gigante, que demora mais pra amadurecer, pior ainda! Com menos de 1 ano não se tem laudo confiável pra certas doenças hereditárias, como displasia coxofemoral, que deve ser feita com no mínimo 18 meses na maioria dos casos. Por causa da maturidade física e mental, fêmeas jamais deveriam ser acasaladas com menos de 18 meses, e machos jamais deveriam acasalar com menos de 12 meses. Ideal mesmo é que acasalem só perto dos 2 anos de idade, quando estiverem completamente desenvolvidos e com todos os exames de saúde em ordem.

- Os que gastam muito dinheiro comprando cães filhos ou da mesma linhagem dos mais famosos e ganhadores, e portanto têm a certeza de ter o melhor, não sendo preciso fazer nada além de reproduzi-los. Errado. Ainda quando se trata de importação os pais costumam ter exames de saúde, mas quando são provenientes de exemplares vencedores aqui no Brasil, nem exames de saúde pra doenças hereditárias esses cães, seus pais ou avós possuem! E mesmo os pais tendo exames, lidamos com biologia e genética, não matemática, e o criador sério TEM que se preocupar com saúde, só colocando seus cães em reprodução após realizar exames (ao menos o básico, conforme as doenças inerentes à raça). Pior que isso, existem criadores que chegam a falsificar laudos de saúde, ou até mesmo usar na reprodução um cão sem exames como se fosse outro cão com exames, condenando a raça que diz "amar".

- Os que gastam fortunas colocando seus cães nas mãos dos melhores handlers ou treinadores, que sabem da necessidade mas não se importam que seu cão precise ser maquiado pra vencer. Ou que gastam fortunas corrigindo problemas hereditários, como dentição incorreta ou incompleta (maquiando problemas), e depois se exibem como ótimos criadores com seus belíssimos (maquiados) cães. Está muito errado! Esse criador acha que está enganando a quem? Certamente a si mesmo.

- Os que se deixam levar pelas aparências e pelos títulos. Acasalam cães pelos seus títulos, nada mais. Não sabem o que buscam, não sabem qual seu ideal, só sabem dar valor a títulos e acreditam criar bem por criar só com cães que tenham títulos. Errado. Título nenhum é garantia de qualidade. E mesmo o cão sendo merecedor do título que possui, é preciso saber enxergar o que se busca e o que precisa ser melhorado, estudar cada vez mais para criar cada vez melhor.

- Os que fixam seu ideal em um exemplar e buscam desesperadamente produzir outro igual, fazendo acasalamentos consanguíneos, um atrás do outro, se justificando naquele exemplar famoso ou bonito que tem como ideal. Errado. Talvez essa seja uma das mais perigosas armadilhas pros que tentam criar em cima de cães famosos mas sem estudar genética, pois tal prática normalmente se revela totalmente inconseqüente e já provou diversas vezes produzir o efeito contrário: diminuímos a variabilidade genética e assim expomos os genes mais doentes que aquela linhagem possui, produzindo cães muitas vezes atípicos, com faltas desqualificantes e doentes. (Acaba acontecendo o mesmo com aquele criador de fundo de quintal que acasala mãe com filho, irmão com irmã, etc...)

Não surpreendentemente, em geral os criadores com esses perfis citados NÃO fazem qualquer exame de saúde (pra doenças hereditárias) em seu plantel. Fique atento.

Claro que os piores criadores são aqueles que não oferecem o mínimo de bem estar aos seus cães, mas esses nem podem ser chamados de criadores. Esses são meros produtores de filhotes. Esses não mostram os pais, geralmente nem dão endereço, vendem filhotes pela internet, entregam em casa, ou vendem pra pet shops. Criam várias raças, ou só as raças da moda. E enquanto tiver gente comprando filhotes deles, eles vão continuar explorando e maltratando muitos e muitos cães. Então nunca compre um filhote sem conhecer melhor o criador e seu trabalho em prol da raça.

** Eu ia escrever sobre o que é um criador sério e ético, mas o que seria uma introdução ficou tão longo, que vou parar por aqui, falando só do criador pouco confiável. No próximo eu falo do criador verdadeiramente preocupado com a raça que cria.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Estimulação Neurológica Precoce (ENS)


Olá!

Fiquei surpresa com o número de comentários/mensagens que recebi após a última publicação aqui no blog. Gostei muito do feedback. Ia mesmo escrever sobre a ENS em algum momento, mas como foi o assunto "mais pedido", já vou falar sobre ela nessa segunda postagem do ano.

A Estimulação Neurológica Precoce é chamada por aí pela sigla ENS, abreviação do nome em inglês: Early Neurological Stimulation. E eu, que também já me habituei a falar ENS, vou chamá-la dessa forma daqui em diante pra facilitar.

O artigo completo, que fala não só sobre a ENS propriamente dita, mas sobre os fundamentos e estudos similares em outras espécies e a importância da socialização e do enriquecimento em conjunto, você encontra nesse link no site do autor: http://www.breedingbetterdogs.com/article/early-neurological-stimulation
E aqui tem o link com um resumo da ENS, bem enxuto e prático pra quem quer ir direto ao assunto: http://www.hokkaido-ken.eu/pdf/ens_program.pdf

Eu tomei conhecimento da ENS faz pouco tempo, mas esse protocolo sugerido pelo Dr. Battaglia já é um antigo conhecido de muitos criadores pelo mundo. Basta digitar no Google e aparecem muitos resultados pro assunto, o que me levou também a tomar conhecimento do outro lado da moeda: a discussão sobre a real utilidade da ENS, sua origem e embasamento científico.

Me parece que a ENS pode não fazer diferença quando a socialização é bem feita. Li relatos de criadores que fazem a ENS há 10 anos mas, pecando na socialização, não permitiam que seus filhotes alcançassem todo seu potencial, pois relataram melhores resultados quando passaram a dar mais atenção à fase crítica de socialização. E encontrei também esse trabalho: Evaluating the effect of early neurological stimulation on the development and training of mine detection dogs, que avaliou os efeitos da ENS em cães de detecção, nos quais não foram vistas diferenças entre indivíduos submetidos à ENS e os não submetidos a ela, mas todos muito bem socializados.

De qualquer forma o protocolo faz sentido pra mim e, não representando risco ao filhote, resolvi aplicá-lo pela primeira vez na ninhada atual, que completa hoje 16 dias de vida (hoje foi o último dia de ENS). Pretendo, de agora em diante, aplicar a todas as ninhadas que nascerem sob os meus cuidados. Se a ENS não faz mal e pode ajudar, por que não aplicá-la?

O autor da ENS afirma que, aplicando o protocolo, são notados benefícios como:
  • Melhora do desempenho cardiovascular (frequência cardíaca)
  • Batimentos cardíacos mais fortes
  • Glândulas adrenais mais fortes
  • Maior tolerância ao estresse
  • Maior resistência a doenças
Isso tudo, em tese, se deve ao estímulo gerado por uma correta/pequena carga de estresse a que um filhote é exposto em determinada fase de vida (se ficou interessado em entender melhor, leia o artigo completo - o link está mais acima).

A ENS deve ser aplicada especificamente do 3º (terceiro) ao 16º (décimo sexto) dia de vida do filhote, uma única vez ao dia pra cada filhote.
Importante: se os filhotes estiverem passando por qualquer outro estresse, por menor que seja (corte de cauda, ou com diarréia, por exemplo), não deve-se aplicar a ENS naquele(s) dia(s), com o risco de exagerar na carga de estresse e fazer mal ao filhote.

A ENS é formada por 5 exercícios, que devem ser aplicados por 3 a 5 segundos cada (são segundos mesmo, basta contar até 5 em cada exercício), uma vez ao dia:

1 - Estimulação tátil
Segurando o filhote em uma das mãos, você deverá estimulá-lo delicadamente (cócegas), passando um cotonete entre os dedos de qualquer pata, por 3 a 5 segundos. Não é necessário ver que o filhote esteja sentindo o cotonete ou cócegas (muitos filhotes nem ligam, o que importa é a aplicação do estímulo).

2 - Cabeça erguida
Com as duas mãos, segure o filhote de forma que fique com a cabeça pra cima, perpendicular ao chão, por 3 a 5 segundos.

3 - Cabeça para baixo
Segurando o filhote firmemente com as duas mãos, vire-o de cabeça para baixo (de ponta-cabeça), perpendicular ao chão, por 3 a 5 segundos.

4 - De barriga pra cima
Segure o filhote com as duas mãos, mantendo-o deitado de barriga pra cima, com as costas nas palmas de suas mãos e focinho apontado para o teto, por 3 a 5 segundos. Se o filhote estiver com sono, vai "dormir", ou então vai tentar se virar, nesse caso apenas o acomode entre suas mãos da forma mais acolhedora possível e tente acalmá-lo com carinho até dar os 3 a 5 segundos.

5 - Estimulação térmica
Usando uma toalha levemente úmida e fria, previamente deixada na geladeira por 5 minutos ou mais, coloque a toalha em cima de uma mesa, então coloque o filhote na toalha, com as patas tocando a toalha fria, sem impedi-lo de se mover (mas tomando todo cuidado para que ele não caia). No desenho do artigo mostra o filhote e a toalha nas mãos, mas a recomendação mais atual é colocar em uma mesa - cuidado para não deixar o filhote cair!!

Todos os meus filhotes ficaram agitados em todos os exercícios e todos os dias, então deu um certo trabalho mas é rapidinho e muito simples. Nos dois primeiros links que coloquei lá no começo desse post, tem os artigos com as imagens mostrando cada exercício.

Os filhotes passam por 2 períodos críticos, limitados e insubstituíveis. O primeiro é esse período da aplicação da ENS, do 3º ao 16º dia de vida, e o segundo período e mais importante de todos é o da socialização ou estimulação social, que começa quando começam a escutar (por volta do 21º dia de vida) e vai até a 12ª semana de vida (podendo se estender até a 16ª semana de vida, dependendo do indivíduo).

Seguindo a linha de raciocínio do Dr. Battaglia (autor da ENS), para permitir que um filhote alcance todo o seu potencial e dar a ele o melhor início de vida possível, tenha certeza em fornecer:

  • estimulação neurológica precoce (entre 3 e 16 dias de vida)
  • abundante socialização de qualidade - especialmente importante entre a 4ª e 12ª semanas de vida
  • atividades de enriquecimento, começando cedo e continuando por toda a vida do filhote

Aos poucos vou falar mais sobre esses dois últimos itens, especialmente socialização, fase tão importante e muitas vezes negligenciada até por nós que "respiramos cachorro". Eu sempre senti a importância dessa fase mas confesso que repetidamente pequei muito nela, deixando de agir (isto é, socializar os filhotes) de forma mais intensa e regular por causa da correria do dia-a-dia, o que eu espero mudar a partir desse ano, seguindo o "plano de ação" fantástico e muito bem elaborado pelo Puppy Culture Program (pra quem não conhece, falarei mais a respeito em novas postagens).

Espero que tenham gostado e, aos que ainda não conheciam a ENS, que desfrutem de mais um tiquinho de conhecimento, sempre fazendo uso do bom senso e do senso crítico para toda nova informação (e também para qualquer coisa na vida). Questionar, analisar e "digerir" qualquer informação antes, para então aceitar/aprovar ou não, é muito importante.

Um ótimo carnaval/feriado pra vocês, e até semana que vem!

Gretta, minha primeira Dobe com pedigree, matriz fundadora do meu canil, em um carnaval qualquer quando ainda era jovem-adulta, tenho quase certeza que essa foto é de 1997.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Dada a largada

Como o tempo passa rápido! Já se foram 2 anos e meio desde a última postagem no blog. Eu não tinha a menor pretensão de voltar a escrever, sabe como é, no começo deixamos de postar por falta de tempo e ideias, depois deixamos "pra lá" mesmo.

Vira e mexe surgem temas que eu gostaria de escrever sobre, mas o mundo virtual anda tão desvirtuado e a chance de simplesmente "perder seu tempo" é tão grande, que confesso: dá preguiça. Infelizmente tenho percebido que, cada vez mais, as pessoas não estão interessadas em conhecimento ou aprendizado. Querem tudo mastigado, e não só isso, querem algo que satisfaça seu ego e afirme suas convicções superficiais. Se tem embasamento ou não, não importa. Não é a toa que tanta notícia fútil ou falsa, absurda e que beira o ridículo ganha repercussão enorme, enquanto assuntos sérios despertam nada além de desinteresse da maioria.

Trabalho como médica veterinária há 3 anos (me formei em 2012, comecei a clinicar em 2013), e a minha carga de trabalho que no início era quase que entediante, tem só aumentado. Continuo super a favor de comida caseira balanceada, tratamentos naturais, homeopatia, aquela coisa toda que na essência é tão simples, mas é tão maravilhosa e surpreendente como a própria natureza.
Aprendi bastante coisa nesse início de vida profissional como veterinária, como por exemplo, não ficar na expectativa aguardando pelo retorno do paciente (pra saber se um tratamento prescrito surtiu o efeito desejado), pois a maioria só volta quando não melhora. E assim seguimos a vida, aprendendo na prática que "você é responsável por aquilo que cativas" e também pelas expectativas que cria!
Mas... eu não me animei em voltar a escrever aqui no blog por nada disso.

A verdade é que estou tão animada com a ninhada atual, que isso sim me inspirou pra voltar a compartilhar um pouquinho do que aprendi e venho aprendendo dia após dia, afinal "só sei que nada sei".

Aí vem a pergunta: mas POR QUE tão animada assim com a ninhada atual? 
Bom, primeiro pela expectativa quanto à qualidade da ninhada por conta de seu potencial genético. É a primeira ninhada padreada pelo meu Dobermann macho mais novo, um marrom sarado (sério, ele é musculoso por natureza!) que eu fui buscar na Dinamarca em Março do ano passado, também 100% linhagem de trabalho como todos os Dobermanns que tenho atualmente. 
Em segundo lugar e motivo crucial da animação é o fato de que, desde o ano passado, tenho descoberto muita coisa interessante ao pesquisar mais a fundo sobre diferentes "protocolos" de manejo de ninhadas, como a estimulação neurológica precoce. Inicialmente será mais sobre isso que vou falar, informação valiosa e que eu achei quase sem querer, e junto compartilhar também o desenvolvimento e trabalho que fizer com a filhotada aqui. Se ninguém se interessar pelo conteúdo, ao menos terei registros de tudo isso para o meu deleite futuro (hihihi). Minha meta é fazer publicações regulares aqui no Blog a partir de agora, vamos ver se eu consigo cumprir.

Um abraço e obrigada pela leitura!

PS: Comentários são bem-vindos! Mandem sugestões caso queiram que eu fale sobre assuntos específicos, eu agradeço muito. Agora, se for pra me xingar, prometo ficar chateada por até um dia, mas o comentário será excluído porque quero só energia positiva aqui. :)