domingo, 28 de fevereiro de 2016

Puppy Culture

Hoje a filhotada aqui está com idades muito legais, embora dando bem mais trabalho: os mais velhos estão completando 37 dias de vida e os mais novos estão completando hoje 3 semanas ou 21 dias de vida.

No ano passado, ao ler o excelente artigo Fading Puppy Syndrome de Jane Killion, descobri o Puppy Culture. Curiosa e empolgada com os relatos de outros criadores de todo o mundo, adquiri o filme no início desse ano para me preparar antes de chegarem as ninhadas. Com a alta do dólar, o filme custou bem caro, mas ele vale cada centavo!!! Pra quem tiver interesse, saiba que entender inglês é imprescindível, já que o filme não tem legenda e é todinho em inglês. A boa notícia é que tendo o nível básico de inglês já é suficiente, pois a pronúncia é bem clara.

Puppy Culture é um filme (muito bem) elaborado por Jane Killion, americana, treinadora e criadora de Bull Terrier. O filme descreve e explica diversos fatores envolvidos em todas as fases de desenvolvimento do filhote, desde a gestação, e propõe um protocolo fantástico de manejo para cada uma dessas fases, com maior ênfase na fase crucial de sociabilização, que começa quando os filhotes começam a ouvir (geralmente perto de 21 dias de vida) e termina por volta da 12ª semana de vida. 

Parte do que o filme propõe eu já fazia (como por exemplo produzir diferentes e inesperados barulhos tão logo começam a ouvir), mas tem muito mais.
Eu estou absolutamente encantada com os resultados que venho tendo com meus filhotes.
Em alguns dias de condicionamento, com 35 dias de vida eles já sabiam que deveriam sentar, e não pular em mim, para ganhar atenção. Eu sinceramente não sabia que era possível modelar o comportamento de filhotes de apenas 4 semanas de vida.
Recomendo muito para qualquer pessoa que tenha que lidar com filhotes de qualquer idade, pois o filme traz dicas e informações que abrangem todas as fases e podem ser aplicadas também em filhotes mais velhos, sem falar no conhecimento científico que proporciona.

Aqui está um vídeo com trechos que filmei enquanto ensinava o "manding" aos filhotes:

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Minha trajetória e o que é um criador sério e ético

Eu não sou, nem nunca fui, o exemplo ideal de criador. Na verdade me faltam principalmente recursos financeiros pra fazer tudo o que eu gostaria e penso ser ideal, mas, ainda assim, estou conseguindo cada vez fazer mais e melhor, dentro das limitações que a vida me impõe.
Comecei como a maioria dos criadores: adquiri uma filhota com pedigree e comecei a criação ao acasalar essa cadela. Embora eu não tenha tido orientação adequada quanto aos exames de saúde (afinal, se ninguém fazia, como que iam me dizer pra fazer? rss), eu até que não comecei mal: esperei minha cadela amadurecer e só a acasalei aos 3 anos e meio, e escolhi um macho muito bom dentro do meu limitado conhecimento (era vencedor em exposições, vinha de linhagem de cães vencedores, filho de importado, aquela coisa toda que deixa qualquer iniciante deslumbrado).

Definir um acasalamento só pela beleza dos cães e de seus pedigrees já é uma besteira, mas já fiz muitas outras também. Acasalei 2 fêmeas minhas com menos de 2 anos, mais especificamente perto de 1 ano e meio, e me arrependi (ainda bem que isso foi ha mais de 13 anos atrás). Definitivamente uma cadela não tem maturidade (não está "pronta") pra criar uma ninhada com essa idade. E ultimamente eu tenho visto cadelas parindo com 1 ano de idade ou perto disso, e com frequência. Socorro! Cadê o bom senso de quem "cria" e de quem compra tais filhotes? É como falar desses criadores de fundo de quintal, que mantém os cães engaiolados e imundos: eles só existem e continuam fazendo dessa forma porque tem mercado pros seus "produtos". A culpa não é apenas de quem "comete o crime", mas de quem o mantém ativo. Não adianta você fazer campanha pelo bem-estar, se financia a exploração.

Aos poucos fui começando a fazer exames no meu plantel. Comecei pelo laudo de displasia coxofemoral, com cães na época já adultos e que já tinham reproduzido, mas antes tarde do que nunca, não é mesmo? Descobri que eu havia reproduzido uma cadela displásica (isso mesmo) por ignorância e ingenuidade (por sorte o "par" era isento, mas e se não fosse?). Não fui orientada e segui a "tradição" brasileira de criar cães só pelo critério da aparência. O que contribuí para a raça dessa forma? NADA. Meu recado: quem acasala cães por acasalar, mesmo que cuide muitíssimo bem deles e até tendo pago pequenas fortunas pra adquiri-los, não está contribuindo NADA. Está fazendo nada mais do que um desserviço à raça.
Eu comecei a fazer exames, eu fui atrás de genética diferenciada, eu estudei mais genética (não só pedigrees), mudei todo o meu conceito em relação ao manejo (especialmente nutricional) e aqui estou eu, finalmente com a sensação de estar no caminho certo dentro daquilo que almejo.

Resumindo, eu tropecei muito pra aprender o que ninguém havia me ensinado. Sofri demais vendo cães com problemas de saúde que provavelmente poderiam ter sido evitados. E foi principalmente por esse motivo que eu mudei completamente o rumo da criação duas vezes e que venho trilhando um caminho cada vez mais "natureba" em relação ao manejo.

É preciso fazer mais popular a cultura do critério na criação, dos exames pra doenças hereditárias, e da responsabilidade do criador pelo que cria. Quem sabe quando tivermos "compradores" mais exigentes, teremos criadores mais comprometidos, faremos novos criadores começarem certo, e conseguiremos acabar com criadores irresponsáveis ou ignorantes.

Vamos agora ao ponto:

QUAIS SÃO OS "SINAIS" PRA IDENTIFICAR UM CRIADOR SÉRIO E ÉTICO?

- Só acasala fêmeas com mais de 24 meses e machos com mais de 18 meses.

- Não acasala fêmeas por cios seguidos (normalmente "pula" um ou dois cios pra cada cio com acasalamento/ninhada) ou acasala no máximo por 2 cios seguidos (e isso somente quando a cadela está em excelente estado geral e o intervalo entre os cios não é curto - afinal há cadelas que têm cio a cada 4 ou 5 meses). Há exceções para alguns casos específicos em que realmente existe a orientação de, por exemplo, acasalar por até 3 cios seguidos e em seguida castrar, mas o criador deverá saber explicar os motivos com detalhes. Que eu saiba não existe justificativa nem nunca vi qualquer orientação para acasalar uma fêmea por mais do que 3 cios consecutivos.

- Só acasala cães com resultados satisfatórios em exames pra doenças hereditárias existentes na raça, especialmente aquelas doenças passíveis de serem detectadas antes da idade reprodutiva, como a displasia coxofemoral e displasia de cotovelos, por exemplo.

- Estuda genética e saúde/doenças incansavelmente (não entende somente de pedigrees/linhas de sangue), portanto entende a importância do coeficiente de inbreeding e calcula-o ao planejar qualquer acasalamento, evitando acasalamentos "fechados" (ou os faz somente em casos especiais, totalmente ciente dos riscos) e sabe explicar cada decisão tomada.

- Investe muito tempo (estudando, fazendo contatos, etc.) e dinheiro em genética de boa qualidade (adquirindo cães de boas linhagens, descendentes de exemplares com exames de saúde e comprovadamente longevos).

- Proporciona ao seu plantel: alimentação de qualidade, higiene, atividade física, contato humano (carinho, afeto) e atendimento veterinário sempre que necessário.

- Devido aos itens anteriores, normalmente não tem lucro com a criação, especialmente quando cria raça de porte grande ou gigante. Com sorte consegue cobrir as despesas, mas geralmente gasta mais do que ganha. Só continua criando se tiver um emprego / renda extra pra custear a criação, e claro, também porque realmente ama esse hobby, seus cães e a raça.

- Por tratar seu plantel com respeito e planejar a criação com a melhor das intenções, jamais esconde o histórico de sua criação. Divulga as ninhadas já nascidas e acasalamentos já feitos, assim como os frutos deles.

- Não tem pressa pra entregar o filhote, só libera filhotes após completamente desmamados, geralmente com a primeira dose de vacina (pelo menos), em ótimo estado geral.

- Cuida dos cães e filhotes de perto, com ajuda ou não, mas jamais deixa tudo nas mãos de funcionários. Conhece a fundo cada cão que possui, e é nítido o vínculo afetivo que cada cão demonstra pelo seu dono (no caso, o criador de cães). Não preciso nem dizer que quase sempre o criador mora no mesmo local onde tem os cães e a criação, né? Que entendam como "mora no canil" ou "tem o canil em casa", dá na mesma (mas lembre-se: se largar tudo nas mãos de funcionários e não lidar com os cães e filhotes, não faz diferença ele morar lá). Estrutura física (um grande canil com grandes instalações) nem sempre é atestado de qualidade ou seriedade, e vice-versa. Ter canil registrado já faz da pessoa um criador, e um bom criador pode ter poucos cães e tê-los como seus cães de família, na sua casa, sem nenhum problema, assim como pode ter instalações próprias para abrigar um número maior de cães.

- Proporciona o melhor ambiente possível para a matriz e seus filhotes. Começa o desmame cedo para não sobrecarregar a mãe, isto é, oferece alimentos aos filhotes tão logo eles mostrem interesse, deixando que a mãe amamente o quanto e por quanto tempo desejar. Desde o nascimento mantém os filhotes em piso com alguma aderência  (como carpete, tapete higiênico, toalha, piso de borracha, etc.) para que não fiquem escorregando, permitindo assim um melhor desenvolvimento das articulações e musculatura, além de incentivar e facilitar sua movimentação. Mantém as unhas dos filhotes sempre aparadas para que não machuquem a mãe (elas normalmente não se importam, mas se podemos evitar arranhões, cortes desnecessários e eventuais desconfortos, por que não?), para habituar os filhotes ao manuseio e não atrapalhar o correto desenvolvimento (já vi filhotes de 2 meses com unhas longas de tal forma que elas entortavam o dedo junto!). Além, claro, de dar especial atenção à fase crucial de sociabilização.

- Responde quaisquer perguntas sem melindres, se mostra sempre disponível e atencioso tanto antes quanto depois da entrega do filhote, e dá garantias por escrito (contrato).

- Assim como responde quaisquer perguntas, gosta de fazer perguntas aos interessados em filhotes, para assim tentar selecionar os melhores proprietários pra eles, na medida do possível.

- Identifica cada filhote nascido aos seus cuidados, seja através de tatuagem ou microchip. Dessa forma mantém um elo de ligação, possibilitando encontrar ou recuperar qualquer exemplar de sua criação que por acaso se perca ou seja abandonado por um proprietário que se revele irresponsável.

- É filiado a um ou mais clubes cinófilos e registra seus filhotes sempre antes dos 90 dias de idade. 

- Não vende e sim doa castrados os filhotes que eventualmente apresentem algum problema congênito.

- Ajuda e orienta na escolha e manejo do filhote. Mostra os pais e filhotes, e sempre tem vídeos e fotos deles. Se preserva ao máximo (hoje em dia há muitos roubos em canis) mas não esconde seus cães, pelo contrário, tem o maior orgulho deles.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

O que NÃO é um criador sério e ético

Hoje, muito cansada após cortar/aparar as unhas de 12 filhotes (depois de toda a rotina diária de cuidados e limpeza, e com muito ainda por fazer ao longo do dia), me peguei pensando no quanto eu (assim como outros criadores sérios e éticos) me esforço e o quanto isso é recompensador (me traz satisfação pessoal, sensação de felicidade)... mas, ao mesmo tempo, pensava na sacanagem que é ser comparada a criadores meramente comerciantes, ou até mesmo criadores que parecem sérios mas não se esforçam um décimo do que um Criador de verdade se esforça. Tenho visto tanta barbaridade (desde canis - às vezes até luxuosos e espaçosos - onde moram cães solitários e carentes de afeto, cadelas sendo acasaladas com menos de 1 ano e por cios seguidos, cães reproduzindo sem exames pra doenças hereditárias, até o pior do pior, aqueles que além de explorar os cães, ainda os mantêm em ambientes minúsculos, imundos e sem alimentação adequada) e conseqüentemente tanto equívoco em relação ao assunto, afinal a maioria das pessoas acredita que criador é tudo igual e só querem saber de ganhar dinheiro fácil. E foi então que resolvi escrever sobre esse assunto.

A criação de cães parece algo muito fácil. De fato, qualquer pessoa pode se entitular um criador de cães, afinal basta reproduzir uma cadela e registrar um nome de canil (para poder registrar os filhotes dessa cadela), para então ter filhotes com pedigree e puros (caso os documentos dos cães não sejam falsificados ou trocados).

Existem N tipos diferentes de criadores não confiáveis, mas alguns dos mais "disfarçados" e que enganam muita gente são esses:

- Os ingenuamente bem intencionados que acham que tudo é amor, que apenas cuidar bem e dar uma boa vida aos cães faz deles bons criadores, e portanto não há nada de errado em tirar ninhadas de sua cadelinha linda e bem cuidada pra vender seus filhotes. Errado. Cuidar bem faz deles bons proprietários (algo que todos os cães, de raça ou não, merecem), mas criar bem vai muito além disso.

- Os que acasalam cães com menos de 2 anos de idade, ou pior, acasalam cães com menos de UM ANO de idade, e ainda assim escrevem textos de amor e cuidado aos cães e à raça, relatam sua ansiedade, a concretização de um sonho, etc. Muito errado e triste. Isso é abuso, desrespeito, exploração. Se for uma cadela de raça grande ou gigante, que demora mais pra amadurecer, pior ainda! Com menos de 1 ano não se tem laudo confiável pra certas doenças hereditárias, como displasia coxofemoral, que deve ser feita com no mínimo 18 meses na maioria dos casos. Por causa da maturidade física e mental, fêmeas jamais deveriam ser acasaladas com menos de 18 meses, e machos jamais deveriam acasalar com menos de 12 meses. Ideal mesmo é que acasalem só perto dos 2 anos de idade, quando estiverem completamente desenvolvidos e com todos os exames de saúde em ordem.

- Os que gastam muito dinheiro comprando cães filhos ou da mesma linhagem dos mais famosos e ganhadores, e portanto têm a certeza de ter o melhor, não sendo preciso fazer nada além de reproduzi-los. Errado. Ainda quando se trata de importação os pais costumam ter exames de saúde, mas quando são provenientes de exemplares vencedores aqui no Brasil, nem exames de saúde pra doenças hereditárias esses cães, seus pais ou avós possuem! E mesmo os pais tendo exames, lidamos com biologia e genética, não matemática, e o criador sério TEM que se preocupar com saúde, só colocando seus cães em reprodução após realizar exames (ao menos o básico, conforme as doenças inerentes à raça). Pior que isso, existem criadores que chegam a falsificar laudos de saúde, ou até mesmo usar na reprodução um cão sem exames como se fosse outro cão com exames, condenando a raça que diz "amar".

- Os que gastam fortunas colocando seus cães nas mãos dos melhores handlers ou treinadores, que sabem da necessidade mas não se importam que seu cão precise ser maquiado pra vencer. Ou que gastam fortunas corrigindo problemas hereditários, como dentição incorreta ou incompleta (maquiando problemas), e depois se exibem como ótimos criadores com seus belíssimos (maquiados) cães. Está muito errado! Esse criador acha que está enganando a quem? Certamente a si mesmo.

- Os que se deixam levar pelas aparências e pelos títulos. Acasalam cães pelos seus títulos, nada mais. Não sabem o que buscam, não sabem qual seu ideal, só sabem dar valor a títulos e acreditam criar bem por criar só com cães que tenham títulos. Errado. Título nenhum é garantia de qualidade. E mesmo o cão sendo merecedor do título que possui, é preciso saber enxergar o que se busca e o que precisa ser melhorado, estudar cada vez mais para criar cada vez melhor.

- Os que fixam seu ideal em um exemplar e buscam desesperadamente produzir outro igual, fazendo acasalamentos consanguíneos, um atrás do outro, se justificando naquele exemplar famoso ou bonito que tem como ideal. Errado. Talvez essa seja uma das mais perigosas armadilhas pros que tentam criar em cima de cães famosos mas sem estudar genética, pois tal prática normalmente se revela totalmente inconseqüente e já provou diversas vezes produzir o efeito contrário: diminuímos a variabilidade genética e assim expomos os genes mais doentes que aquela linhagem possui, produzindo cães muitas vezes atípicos, com faltas desqualificantes e doentes. (Acaba acontecendo o mesmo com aquele criador de fundo de quintal que acasala mãe com filho, irmão com irmã, etc...)

Não surpreendentemente, em geral os criadores com esses perfis citados NÃO fazem qualquer exame de saúde (pra doenças hereditárias) em seu plantel. Fique atento.

Claro que os piores criadores são aqueles que não oferecem o mínimo de bem estar aos seus cães, mas esses nem podem ser chamados de criadores. Esses são meros produtores de filhotes. Esses não mostram os pais, geralmente nem dão endereço, vendem filhotes pela internet, entregam em casa, ou vendem pra pet shops. Criam várias raças, ou só as raças da moda. E enquanto tiver gente comprando filhotes deles, eles vão continuar explorando e maltratando muitos e muitos cães. Então nunca compre um filhote sem conhecer melhor o criador e seu trabalho em prol da raça.

** Eu ia escrever sobre o que é um criador sério e ético, mas o que seria uma introdução ficou tão longo, que vou parar por aqui, falando só do criador pouco confiável. No próximo eu falo do criador verdadeiramente preocupado com a raça que cria.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Estimulação Neurológica Precoce (ENS)


Olá!

Fiquei surpresa com o número de comentários/mensagens que recebi após a última publicação aqui no blog. Gostei muito do feedback. Ia mesmo escrever sobre a ENS em algum momento, mas como foi o assunto "mais pedido", já vou falar sobre ela nessa segunda postagem do ano.

A Estimulação Neurológica Precoce é chamada por aí pela sigla ENS, abreviação do nome em inglês: Early Neurological Stimulation. E eu, que também já me habituei a falar ENS, vou chamá-la dessa forma daqui em diante pra facilitar.

O artigo completo, que fala não só sobre a ENS propriamente dita, mas sobre os fundamentos e estudos similares em outras espécies e a importância da socialização e do enriquecimento em conjunto, você encontra nesse link no site do autor: http://www.breedingbetterdogs.com/article/early-neurological-stimulation
E aqui tem o link com um resumo da ENS, bem enxuto e prático pra quem quer ir direto ao assunto: http://www.hokkaido-ken.eu/pdf/ens_program.pdf

Eu tomei conhecimento da ENS faz pouco tempo, mas esse protocolo sugerido pelo Dr. Battaglia já é um antigo conhecido de muitos criadores pelo mundo. Basta digitar no Google e aparecem muitos resultados pro assunto, o que me levou também a tomar conhecimento do outro lado da moeda: a discussão sobre a real utilidade da ENS, sua origem e embasamento científico.

Me parece que a ENS pode não fazer diferença quando a socialização é bem feita. Li relatos de criadores que fazem a ENS há 10 anos mas, pecando na socialização, não permitiam que seus filhotes alcançassem todo seu potencial, pois relataram melhores resultados quando passaram a dar mais atenção à fase crítica de socialização. E encontrei também esse trabalho: Evaluating the effect of early neurological stimulation on the development and training of mine detection dogs, que avaliou os efeitos da ENS em cães de detecção, nos quais não foram vistas diferenças entre indivíduos submetidos à ENS e os não submetidos a ela, mas todos muito bem socializados.

De qualquer forma o protocolo faz sentido pra mim e, não representando risco ao filhote, resolvi aplicá-lo pela primeira vez na ninhada atual, que completa hoje 16 dias de vida (hoje foi o último dia de ENS). Pretendo, de agora em diante, aplicar a todas as ninhadas que nascerem sob os meus cuidados. Se a ENS não faz mal e pode ajudar, por que não aplicá-la?

O autor da ENS afirma que, aplicando o protocolo, são notados benefícios como:
  • Melhora do desempenho cardiovascular (frequência cardíaca)
  • Batimentos cardíacos mais fortes
  • Glândulas adrenais mais fortes
  • Maior tolerância ao estresse
  • Maior resistência a doenças
Isso tudo, em tese, se deve ao estímulo gerado por uma correta/pequena carga de estresse a que um filhote é exposto em determinada fase de vida (se ficou interessado em entender melhor, leia o artigo completo - o link está mais acima).

A ENS deve ser aplicada especificamente do 3º (terceiro) ao 16º (décimo sexto) dia de vida do filhote, uma única vez ao dia pra cada filhote.
Importante: se os filhotes estiverem passando por qualquer outro estresse, por menor que seja (corte de cauda, ou com diarréia, por exemplo), não deve-se aplicar a ENS naquele(s) dia(s), com o risco de exagerar na carga de estresse e fazer mal ao filhote.

A ENS é formada por 5 exercícios, que devem ser aplicados por 3 a 5 segundos cada (são segundos mesmo, basta contar até 5 em cada exercício), uma vez ao dia:

1 - Estimulação tátil
Segurando o filhote em uma das mãos, você deverá estimulá-lo delicadamente (cócegas), passando um cotonete entre os dedos de qualquer pata, por 3 a 5 segundos. Não é necessário ver que o filhote esteja sentindo o cotonete ou cócegas (muitos filhotes nem ligam, o que importa é a aplicação do estímulo).

2 - Cabeça erguida
Com as duas mãos, segure o filhote de forma que fique com a cabeça pra cima, perpendicular ao chão, por 3 a 5 segundos.

3 - Cabeça para baixo
Segurando o filhote firmemente com as duas mãos, vire-o de cabeça para baixo (de ponta-cabeça), perpendicular ao chão, por 3 a 5 segundos.

4 - De barriga pra cima
Segure o filhote com as duas mãos, mantendo-o deitado de barriga pra cima, com as costas nas palmas de suas mãos e focinho apontado para o teto, por 3 a 5 segundos. Se o filhote estiver com sono, vai "dormir", ou então vai tentar se virar, nesse caso apenas o acomode entre suas mãos da forma mais acolhedora possível e tente acalmá-lo com carinho até dar os 3 a 5 segundos.

5 - Estimulação térmica
Usando uma toalha levemente úmida e fria, previamente deixada na geladeira por 5 minutos ou mais, coloque a toalha em cima de uma mesa, então coloque o filhote na toalha, com as patas tocando a toalha fria, sem impedi-lo de se mover (mas tomando todo cuidado para que ele não caia). No desenho do artigo mostra o filhote e a toalha nas mãos, mas a recomendação mais atual é colocar em uma mesa - cuidado para não deixar o filhote cair!!

Todos os meus filhotes ficaram agitados em todos os exercícios e todos os dias, então deu um certo trabalho mas é rapidinho e muito simples. Nos dois primeiros links que coloquei lá no começo desse post, tem os artigos com as imagens mostrando cada exercício.

Os filhotes passam por 2 períodos críticos, limitados e insubstituíveis. O primeiro é esse período da aplicação da ENS, do 3º ao 16º dia de vida, e o segundo período e mais importante de todos é o da socialização ou estimulação social, que começa quando começam a escutar (por volta do 21º dia de vida) e vai até a 12ª semana de vida (podendo se estender até a 16ª semana de vida, dependendo do indivíduo).

Seguindo a linha de raciocínio do Dr. Battaglia (autor da ENS), para permitir que um filhote alcance todo o seu potencial e dar a ele o melhor início de vida possível, tenha certeza em fornecer:

  • estimulação neurológica precoce (entre 3 e 16 dias de vida)
  • abundante socialização de qualidade - especialmente importante entre a 4ª e 12ª semanas de vida
  • atividades de enriquecimento, começando cedo e continuando por toda a vida do filhote

Aos poucos vou falar mais sobre esses dois últimos itens, especialmente socialização, fase tão importante e muitas vezes negligenciada até por nós que "respiramos cachorro". Eu sempre senti a importância dessa fase mas confesso que repetidamente pequei muito nela, deixando de agir (isto é, socializar os filhotes) de forma mais intensa e regular por causa da correria do dia-a-dia, o que eu espero mudar a partir desse ano, seguindo o "plano de ação" fantástico e muito bem elaborado pelo Puppy Culture Program (pra quem não conhece, falarei mais a respeito em novas postagens).

Espero que tenham gostado e, aos que ainda não conheciam a ENS, que desfrutem de mais um tiquinho de conhecimento, sempre fazendo uso do bom senso e do senso crítico para toda nova informação (e também para qualquer coisa na vida). Questionar, analisar e "digerir" qualquer informação antes, para então aceitar/aprovar ou não, é muito importante.

Um ótimo carnaval/feriado pra vocês, e até semana que vem!

Gretta, minha primeira Dobe com pedigree, matriz fundadora do meu canil, em um carnaval qualquer quando ainda era jovem-adulta, tenho quase certeza que essa foto é de 1997.