Gostaria de comentar um pouco sobre a experiência que tive nesse mundial.
A primeira coisa que vi (já tinha isso em mente) é básica rs, é impossível viajar pra qualquer país desses sem falar inglês. Digo isso pois muita gente acha que é só chegar lá e pronto. Dependendo do país é difícil até pra quem fala inglês, embora as pessoas pensem que na Alemanha ou Bélgica todo mundo fala inglês. Não é assim, pelo menos nos países que passei por esses anos. Na Finlândia, pra minha surpresa, 98% das pessoas fala inglês, em lojas, restaurantes, mercados...
Falando mais especificamente sobre os treinos:
Não tem como sair daqui e chegar na europa sem ter um campo pra treinar, sem ter figurante e também sem saber onde devemos fazer faro, mesmo com todo aquele espaço para faro tem o fato de que alguns fazendeiros não gostam que use as terras deles e, o mais importante, é saber qual tipo de solo usar, tentando fazer com que o cachorro chegue o mais perto possível do que vai encontrar na prova.
Nunca vi um solo como o da Finlândia, é realmente estranho! Se estiver sol o terreno fica arenoso, cheio de torrões parecidos com pedras bem grandes, mais ou menos uns 20cm cada torrão. É bem duro pra quebrar um torrão daquele mesmo pisando com força e depois de quebrado a terra fica arenosa. Se estiver garoando a terra fica como cimento rs, eu sei, não dá pra imaginar terra molhada virar cimento, mas acreditem, vira sim. É realmente duro e não marca quase nada. Se chover forte vira uma lama, a terra fica parecendo argila. Essa argila gruda na bota e seu pé fica 4 x mais pesado e 2 x mais largo. Eu pensei que não seria ruim, sendo que a primeria coisa que veio a minha cabeça foi, "um pé maior e mais pesado significa uma pegada mais larga e mais funda", mas isso não acontece, pois tem tanto barro, mas tanto barro na bota, que depois de uns 20 passos a unica coisa que acontece é barro batendo com barro! Resultado, não tem cheiro e não se ve nada. Outra dificuldade é andar naquela lama toda. EU não sabia se olhava pro chão pra não cair ou se olhava pro cachorro.
O fato do solo estar arenoso ou com lama é complicado pro cachorro, pois a pata dele afunda e consequentemente gera insegurança (claro que isso vai depender do cachorro), no caso do meu cachorro eu não percebi esse problema, de todo modo percebi sim a dificuldade dele em andar pois do mesmo modo que eu tinha que prestar atenção pra não cair ele tinha que fazer o mesmo, além da força 3 x maior pra poder se locomover. Só estando lá pra "sentir" essa dificuldade.
No mesmo grupo de faro que eu estava, 3 cães desistiram da pista, 2 na primeira reta e 1 na segunda.
Falando agora sobre a obediência e proteção, me parece impossível participar de um campeonato mundial sem ter um campo bem grande para treinar. Os cães estranham a largura e comprimento do campo. Pra alguns condutores também é estranho. Se posicionar bem em um campo grande é bem mais difícil que em campo pequeno, ainda mais se for o nosso campo de treino onde tudo acaba sendo automático.
Treinar obediência sozinho é uma péssima idéia. Tem sempre que ter alguém observando de fora para dizer como o cachorro está se comportanto, assim o resultado final será bem melhor. Digo isso pois tem que ter pessoas auxiliando o condutor o tempo todo. Sair daqui pensando que é só chegar lá e treinar normalmente e sozinho não dá.
É importante também ter barreiras e rampas diferentes umas das outras mas o cachorro só terá problema com isso se tiver problemas com ambiente. De qualquer modo é bom prevenir, quem treina pra uma competição de tamanho porte, tem que pensar em tudo.
Vi na prática o quão importante é o Chefe de Equipe. Esse negócio de colocar qualquer pessoa, só pra "ter o nome", é furada. É importante que o chefe fale no mínimo inglês e preferencialmente também alemão e espanhol.
Creio que acertamos na escolha dos nossos chefes de equipe, no meu ponto de vista eles foram muito competentes e nos ajudaram muito. Inclusive, com alguns horários muito próximos e em locais distintos, cada dupla brasileira sempre tinha um chefe ao lado.
Achei que fez uma grande diferença o fato do Bert ser treinador e ter experiência com mundiais, além da experiência da Sheila com provas e organização, o que ajudou muito com as orientações passadas pelos juízes na reunião dos chefes de equipe. Os horários de treinos eram programados e organizados por eles, fazíamos reuniões de equipe pra sempre discutir o que seria feito e com isso correu tudo bem. Não precisávamos nos preocupar com reunião ou qualquer tipo de aviso aos competidores, pois eles estavam sempre a par de tudo e nos informando a todo instante, sendo assim podíamos nos concentrar nos cães e na prova.
Falando um pouco sobre o treino oficial, o que é mais difícil é conseguir fazer o necessário em tão pouco tempo, 5 minutos para cada cão, sendo que os 5 minutos são para obediência e proteção. Olhando de uma forma mais fria, 5 minutos é o suficiente pro cachorro reconhecer o campo, mas não é suficiente para resolver problemas. No meu caso eu não tinha nada para resolver, somente entrei para que o cachorro visse o campo.
Um grande problema são as pessoas da equipe. Vi um time em que todos entraram ao mesmo tempo pra fazer obediência, um passava na frente do outro, um fazia o senta enquanto o outro jogava o halter. No momento do em frente vi um condutor pronto para mandar o cachorro em frente enquanto o outro cruzava o campo de um lado pro outro, enfim, isso atrapalha bastante. De qualquer modo o tempo deles foi suficiente e não vi briga entre eles por conta disso.
Na parte de proteção o que as pessoas treinam é somente a batida de barracas e alguns latidos. Assim que o primeiro cachorro está latindo na barraca o segundo condutor está na posição de mandar o cachorro começar a bater a primeira barraca. Algumas vezes o condutor nem espera, mal termina o latido do cão que está na barraca e o segundo cão já começou a bater.
Alguns condutores colocam brinquedos em 2 barracas, variando a barraca de acordo com o que se quer do cão. Teve um time em que um dos condutores colocou brinquedo em 2 barracas e rapidamente retirou do cão e deu sequencia ao treino. Não atrapalhou em nada no tempo, até porque ele corria até o cão e retirava o brinquedo muito rapidamente.
Porém o condutor 4 daquele time colocou brinquedo em todas as barracas (achei estranho pois pra mim aquilo é treino de filhote), além dessa demora toda pra por os brinquedos havia também uma demora para retirar o brinquedo do cão, sendo que o condutor ia andando até o cachorro, bem despreocupado. Resultado: a dupla 5 foi prejudicada pois quando o condutor 4 saiu (era o penúltimo), ele comecou a bater as barracas e quando chegou na terceira, a organização anuciou no microfone "o tempo do time tal acabou", e no momento exato do anúncio, a organização de prova que estava em campo derrubou as barracas no chão. Sim, isso mesmo, ficava um integrante da organização de prova próximo de cada barraca pra não perder tempo em removê-las para a entrada do próximo time. Resumindo, por culpa de um integrante despreocupado ou mal-intencionado, um outro competidor da mesma equipe foi prejudicado, ficou sem o treino de proteção.
A entrada no momento da prova pra mim foi o maior problema, não pela ansiedade ou coisa do tipo, mas sim do modo que é a espera.
Nós ficavamos do lado de fora do estádio, o juiz da obediência determinou que assim que entrasse no estádio estava proibido o uso de bola ou comida. Depois de entrar no estádio tinhamos que aguardar por volta de 7 minutos fora da pré-pista, então eramos chamados para a pré-pista, onde era verificado o enforcador do cão. Outro problema era entrar pra fazer obediência após ter acabado uma seção de proteção de outro cão. Como tínhamos que ficar ao lado do campo, os cães conseguiam ouvir os figurantes gritando no momento da proteção e consequentemente poderiam entrar com a cabeça pensando em proteção e não em obediência.
Quando éramos chamados pra pré-pista o juiz ainda falava ao microfone sobre o cão anterior, o que gera um grande barulho. Após verificarem o enforcador do cão nós nos apresentavamos pra um auxiliar do juiz, que determinava a ida de um dos condutores pra distração e o outro pra posição inicial (enquanto isso o juiz ainda dava a nota do cão anterior). A partir dai é o que todos conhecemos, o regulamento é o mesmo, nada muda. Pra mim o pior mesmo foi antes da entrada no campo.
Não vi várias apresentações mas das obediências que eu vi, essa eu gostei bastante e acho que merecia mais que 94 pontos por conta da atitude do cachorro: Karat vom Roten Milan, conduzido por Jan Vartiainen - Finlândia.
Novamente quero dizer que chegar na europa sem figurante e sem ter alguns, isso mesmo, alguns bons campos para treinar é loucura. A variação de figurantes também é importante. Figurantes altos, baixos, que recebem pra esquerda ou direita, que colocam carga com a luva alta ou com a luva baixa, enfim, variar o máximo possível.
Os bons clubes lá geralmente tem 5 figurantes muito bons e alguns outros medianos.
O que ficou claro da figuração finlandesa é que eles se preocupam muito com a força da varada. Eles realmente batiam forte nos cães. Pra se ter uma idéia uma semana antes do mundial aconteceu o campeonato finlandes, os figurantes quebraram 4, isso mesmo, 4 bastões gappay nos cães.
Tomar uma bastãozada daquelas pode não fazer o cachorro correr, mas pode sim gerar um certo descontrole emocional no cachorro, fazendo com que ele tenha problemas no larga, por exemplo.
Dos cães que vi a melhor proteção foi desse cão (96 pontos, na minha opinião merecia 98 por conta da força do cachorro): Bendix v. Adlerauge, conduzido por Peter Scherk - Alemanha. O cachorro realmente morde, muito diferente dos outros que vi.
Com relação a minha prova, achei meu cachorro realmente alto, bom, ele sempre é alto na proteção mas como eu nunca havia participado de uma prova com ele eu não tinha idéia de que ele ficava tão alto como ficou.
Assim que eu entrei no campo ele já estava diferente, bem mais difícil de controlar do que o normal, que nunca é fácil, mas na prova estava mais difícil ainda. Por conta disso eu dei comandos bem fortes nos chamados das revistas de biombo.
Quando eu chamei ele pra fora da barraca (no latido) vi que ele estava realmente diferente, respiração mais forte e o olho arregalado. No momento da mordida na fuga ele entrou com muita força, me assustei com a pancada na luva, o som foi muito claro. No reataque não foi diferente.
Quando eu fui até ele pra fazer o transporte, durante esse pequeno percurso olhei pra cara do figurante ele ele estava bufando de tanta força que fez (fazia uff... uff... até biquinho ele fazia pra poder respirar rs). No transporte achei que não fosse conseguir controlar o cachorro, mas ele se manteve bem. A entrada foi novamente forte no transporte pelas costas. Ele nunca fica em pé na condução lateral, acho que estava tão alto e por isso ficou na mola nesse exercício.
Pra levá-lo por lançado também não foi fácil, mas ele não se descontrolou e eu não precisei dar nenhum comando adicional.
Realmente me impressionou a entrada dele no lançado, foi muito forte, eu consegui ouvir a porrada dele na luva, lá do início do campo. Não tive problemas com o larga. Já no segundo larga, após o reataque do lançado, achei que ele não fosse largar pois o figurante já não tinha mais força pra colocar ele pra frente, mas por fim deu tudo certo.
Os 95 na proteção valeram muito pra mim, aliás pro cachorro, pois ele que é bom e não eu.. rs. Muita gente veio falar comigo enquanto eu saía do campo: treinadores, pessoas do público que estavam assistindo, pessoal da organização... todo mundo aplaudindo e fazendo ok. A sensação é indescritível.
Saindo da proteção, pessoas de diversos países vieram perguntar de filhotes dele e acasalamentos pra comprar. Inclusive soube que 16 pessoas tentaram comprar um filho do Arco de uma finlandesa, um cão de cerca de 1 ano, mas ela disse que não venderia pra ninguém! rs.
Achei engraçado 2 casos, uma mulher da organização com cara de brava (essa mesma pessoa estava na sala de reunião no dia dos sorteios dando bronca em todo mundo pra poder organizar a sala rs) veio sorrindo e dizendo "parabéns, foi realmente bom". E outro foi uma pessoa que veio falar comigo dizendo que não gostava de PA, que gostava de mali, mas que se eu quisesse poderia deixar o Arco na casa dela (rs).
O Arco foi mencionado pelos 2 figurantes como o melhor cão de proteção do mundial. Por conta disso fui entrevistado por uma revista finlandesa. Muito legal!
Ah, isso rendeu alguns acasalamentos por lá.
Estou certo que nunca mais terei um cão como ele na proteção.
O fato do Arco ter sido mencionado como o melhor cão de proteção do mundial pelo segundo ano consecutivo só vem a confirmar meu acerto na compra.
Separei alguns comentários de alguns treinadores e figurantes da europa:
Roger Snollaerts: "ele me lembra o meu cão Orry, procura sempre ter a mordida perfeita"
Bert Aerts: "O Arco foi o melhor cão de proteção que treinei em toda minha vida. Ele dá 100% dele em todas as mordidas, mesmo que você faça 100 mordidas em 1 treino, todas são igualmente fortes"
Robbie de Jong (figurante Wusv 2004): "na minha vida toda como figurante só vi 1 cão morder com a força que ele morde. Ele pressiona muito antes de largar, impressionante"
Vincenzo Magnati (figurante Wusv 2009): "foi o único cão que me deu trabalho na proteção, melhor proteção do mundial sem dúvida"
Esa Tapio e Juha Korri (figurantes FCI 2010): "Arco é o cão que vai ficar em nossa memória como melhor cão de proteção do mundial."
Eu comprei o Arco para usar no programa de criação do meu canil, por ter gostado muito dele, das atitudes dele, e pelos filhos dele que vi. Como achei que ele também é um cachorro muito legal para competir decidi participar do mundial, somente por divertimento mesmo. Como todos sabem não fui eu quem treinou ele. Estou comentando isso porque algumas pessoas não entendem o motivo de alguém comprar um cão pronto (sem problemas) e competir com ele. A propósito, eu não compraria uma mercadoria com defeito, então também não tenho motivo pra comprar um cão com problemas... rss. Eu não comprei o cão para fazer o meu nome e nem fui pro mundial pra me promover, é "just for fun"!!! rss
Quem tiver condições de treinar ou comprar um bom cão, esteja ele pronto ou não, pode acreditar que se o cão for realmente bom, vale a pena. Em um campeonato você vai se divertir bastante - e nos treinos também.
Sobre o mundial FCI:
Não vi problema algum em um pastor alemão competir com um malinois, ou qualquer outra raça. O que importa mesmo é o indivíduo. Também não vi nenhum tipo de preferência dos juízes por qualquer raça. Sobre os figurantes, não vi diferenças da figuração de acordo com essa ou aquela raça, cada um deles fez o trabalho dentro do seu estilo. Na proteção do campeonato finlandês de pastor alemão que aconteceu 1 semana antes do mundial, a figuração foi a mesma, e acho que quebrar 4 bastões durante um campeonato não tem nada de leve.
Não poderia deixar de finalizar agradecendo a minha equipe e amigos:
Kathleen Schwab, Leandro Magalhães, Melissa Batalha, Rogério Sandoval, Cristine Dias, Ferreira, Otacílio Araujo "Ceará", Eduardo Bertolucci, Flávio Antunes, Eduardo Carrera, Jaques Oliveira, Gilson Alves, João Batista, Marcelo Segalina e Victor Saad.
Aos treinadores e amigos que me ajudaram na europa:
Bert e Nicole Aerts, Peter e Daniela Verachtert, André Voss, Vincent Honselaar, Ronny van den Berghe e Jessen Tomas.
e... até o próximo campeonato!
A primeira coisa que vi (já tinha isso em mente) é básica rs, é impossível viajar pra qualquer país desses sem falar inglês. Digo isso pois muita gente acha que é só chegar lá e pronto. Dependendo do país é difícil até pra quem fala inglês, embora as pessoas pensem que na Alemanha ou Bélgica todo mundo fala inglês. Não é assim, pelo menos nos países que passei por esses anos. Na Finlândia, pra minha surpresa, 98% das pessoas fala inglês, em lojas, restaurantes, mercados...
Falando mais especificamente sobre os treinos:
Não tem como sair daqui e chegar na europa sem ter um campo pra treinar, sem ter figurante e também sem saber onde devemos fazer faro, mesmo com todo aquele espaço para faro tem o fato de que alguns fazendeiros não gostam que use as terras deles e, o mais importante, é saber qual tipo de solo usar, tentando fazer com que o cachorro chegue o mais perto possível do que vai encontrar na prova.
Nunca vi um solo como o da Finlândia, é realmente estranho! Se estiver sol o terreno fica arenoso, cheio de torrões parecidos com pedras bem grandes, mais ou menos uns 20cm cada torrão. É bem duro pra quebrar um torrão daquele mesmo pisando com força e depois de quebrado a terra fica arenosa. Se estiver garoando a terra fica como cimento rs, eu sei, não dá pra imaginar terra molhada virar cimento, mas acreditem, vira sim. É realmente duro e não marca quase nada. Se chover forte vira uma lama, a terra fica parecendo argila. Essa argila gruda na bota e seu pé fica 4 x mais pesado e 2 x mais largo. Eu pensei que não seria ruim, sendo que a primeria coisa que veio a minha cabeça foi, "um pé maior e mais pesado significa uma pegada mais larga e mais funda", mas isso não acontece, pois tem tanto barro, mas tanto barro na bota, que depois de uns 20 passos a unica coisa que acontece é barro batendo com barro! Resultado, não tem cheiro e não se ve nada. Outra dificuldade é andar naquela lama toda. EU não sabia se olhava pro chão pra não cair ou se olhava pro cachorro.
O fato do solo estar arenoso ou com lama é complicado pro cachorro, pois a pata dele afunda e consequentemente gera insegurança (claro que isso vai depender do cachorro), no caso do meu cachorro eu não percebi esse problema, de todo modo percebi sim a dificuldade dele em andar pois do mesmo modo que eu tinha que prestar atenção pra não cair ele tinha que fazer o mesmo, além da força 3 x maior pra poder se locomover. Só estando lá pra "sentir" essa dificuldade.
No mesmo grupo de faro que eu estava, 3 cães desistiram da pista, 2 na primeira reta e 1 na segunda.
Falando agora sobre a obediência e proteção, me parece impossível participar de um campeonato mundial sem ter um campo bem grande para treinar. Os cães estranham a largura e comprimento do campo. Pra alguns condutores também é estranho. Se posicionar bem em um campo grande é bem mais difícil que em campo pequeno, ainda mais se for o nosso campo de treino onde tudo acaba sendo automático.
Treinar obediência sozinho é uma péssima idéia. Tem sempre que ter alguém observando de fora para dizer como o cachorro está se comportanto, assim o resultado final será bem melhor. Digo isso pois tem que ter pessoas auxiliando o condutor o tempo todo. Sair daqui pensando que é só chegar lá e treinar normalmente e sozinho não dá.
É importante também ter barreiras e rampas diferentes umas das outras mas o cachorro só terá problema com isso se tiver problemas com ambiente. De qualquer modo é bom prevenir, quem treina pra uma competição de tamanho porte, tem que pensar em tudo.
Vi na prática o quão importante é o Chefe de Equipe. Esse negócio de colocar qualquer pessoa, só pra "ter o nome", é furada. É importante que o chefe fale no mínimo inglês e preferencialmente também alemão e espanhol.
Creio que acertamos na escolha dos nossos chefes de equipe, no meu ponto de vista eles foram muito competentes e nos ajudaram muito. Inclusive, com alguns horários muito próximos e em locais distintos, cada dupla brasileira sempre tinha um chefe ao lado.
Achei que fez uma grande diferença o fato do Bert ser treinador e ter experiência com mundiais, além da experiência da Sheila com provas e organização, o que ajudou muito com as orientações passadas pelos juízes na reunião dos chefes de equipe. Os horários de treinos eram programados e organizados por eles, fazíamos reuniões de equipe pra sempre discutir o que seria feito e com isso correu tudo bem. Não precisávamos nos preocupar com reunião ou qualquer tipo de aviso aos competidores, pois eles estavam sempre a par de tudo e nos informando a todo instante, sendo assim podíamos nos concentrar nos cães e na prova.
Falando um pouco sobre o treino oficial, o que é mais difícil é conseguir fazer o necessário em tão pouco tempo, 5 minutos para cada cão, sendo que os 5 minutos são para obediência e proteção. Olhando de uma forma mais fria, 5 minutos é o suficiente pro cachorro reconhecer o campo, mas não é suficiente para resolver problemas. No meu caso eu não tinha nada para resolver, somente entrei para que o cachorro visse o campo.
Um grande problema são as pessoas da equipe. Vi um time em que todos entraram ao mesmo tempo pra fazer obediência, um passava na frente do outro, um fazia o senta enquanto o outro jogava o halter. No momento do em frente vi um condutor pronto para mandar o cachorro em frente enquanto o outro cruzava o campo de um lado pro outro, enfim, isso atrapalha bastante. De qualquer modo o tempo deles foi suficiente e não vi briga entre eles por conta disso.
Na parte de proteção o que as pessoas treinam é somente a batida de barracas e alguns latidos. Assim que o primeiro cachorro está latindo na barraca o segundo condutor está na posição de mandar o cachorro começar a bater a primeira barraca. Algumas vezes o condutor nem espera, mal termina o latido do cão que está na barraca e o segundo cão já começou a bater.
Alguns condutores colocam brinquedos em 2 barracas, variando a barraca de acordo com o que se quer do cão. Teve um time em que um dos condutores colocou brinquedo em 2 barracas e rapidamente retirou do cão e deu sequencia ao treino. Não atrapalhou em nada no tempo, até porque ele corria até o cão e retirava o brinquedo muito rapidamente.
Porém o condutor 4 daquele time colocou brinquedo em todas as barracas (achei estranho pois pra mim aquilo é treino de filhote), além dessa demora toda pra por os brinquedos havia também uma demora para retirar o brinquedo do cão, sendo que o condutor ia andando até o cachorro, bem despreocupado. Resultado: a dupla 5 foi prejudicada pois quando o condutor 4 saiu (era o penúltimo), ele comecou a bater as barracas e quando chegou na terceira, a organização anuciou no microfone "o tempo do time tal acabou", e no momento exato do anúncio, a organização de prova que estava em campo derrubou as barracas no chão. Sim, isso mesmo, ficava um integrante da organização de prova próximo de cada barraca pra não perder tempo em removê-las para a entrada do próximo time. Resumindo, por culpa de um integrante despreocupado ou mal-intencionado, um outro competidor da mesma equipe foi prejudicado, ficou sem o treino de proteção.
A entrada no momento da prova pra mim foi o maior problema, não pela ansiedade ou coisa do tipo, mas sim do modo que é a espera.
Nós ficavamos do lado de fora do estádio, o juiz da obediência determinou que assim que entrasse no estádio estava proibido o uso de bola ou comida. Depois de entrar no estádio tinhamos que aguardar por volta de 7 minutos fora da pré-pista, então eramos chamados para a pré-pista, onde era verificado o enforcador do cão. Outro problema era entrar pra fazer obediência após ter acabado uma seção de proteção de outro cão. Como tínhamos que ficar ao lado do campo, os cães conseguiam ouvir os figurantes gritando no momento da proteção e consequentemente poderiam entrar com a cabeça pensando em proteção e não em obediência.
Quando éramos chamados pra pré-pista o juiz ainda falava ao microfone sobre o cão anterior, o que gera um grande barulho. Após verificarem o enforcador do cão nós nos apresentavamos pra um auxiliar do juiz, que determinava a ida de um dos condutores pra distração e o outro pra posição inicial (enquanto isso o juiz ainda dava a nota do cão anterior). A partir dai é o que todos conhecemos, o regulamento é o mesmo, nada muda. Pra mim o pior mesmo foi antes da entrada no campo.
Não vi várias apresentações mas das obediências que eu vi, essa eu gostei bastante e acho que merecia mais que 94 pontos por conta da atitude do cachorro: Karat vom Roten Milan, conduzido por Jan Vartiainen - Finlândia.
Novamente quero dizer que chegar na europa sem figurante e sem ter alguns, isso mesmo, alguns bons campos para treinar é loucura. A variação de figurantes também é importante. Figurantes altos, baixos, que recebem pra esquerda ou direita, que colocam carga com a luva alta ou com a luva baixa, enfim, variar o máximo possível.
Os bons clubes lá geralmente tem 5 figurantes muito bons e alguns outros medianos.
O que ficou claro da figuração finlandesa é que eles se preocupam muito com a força da varada. Eles realmente batiam forte nos cães. Pra se ter uma idéia uma semana antes do mundial aconteceu o campeonato finlandes, os figurantes quebraram 4, isso mesmo, 4 bastões gappay nos cães.
Tomar uma bastãozada daquelas pode não fazer o cachorro correr, mas pode sim gerar um certo descontrole emocional no cachorro, fazendo com que ele tenha problemas no larga, por exemplo.
Dos cães que vi a melhor proteção foi desse cão (96 pontos, na minha opinião merecia 98 por conta da força do cachorro): Bendix v. Adlerauge, conduzido por Peter Scherk - Alemanha. O cachorro realmente morde, muito diferente dos outros que vi.
Com relação a minha prova, achei meu cachorro realmente alto, bom, ele sempre é alto na proteção mas como eu nunca havia participado de uma prova com ele eu não tinha idéia de que ele ficava tão alto como ficou.
Assim que eu entrei no campo ele já estava diferente, bem mais difícil de controlar do que o normal, que nunca é fácil, mas na prova estava mais difícil ainda. Por conta disso eu dei comandos bem fortes nos chamados das revistas de biombo.
Quando eu chamei ele pra fora da barraca (no latido) vi que ele estava realmente diferente, respiração mais forte e o olho arregalado. No momento da mordida na fuga ele entrou com muita força, me assustei com a pancada na luva, o som foi muito claro. No reataque não foi diferente.
Quando eu fui até ele pra fazer o transporte, durante esse pequeno percurso olhei pra cara do figurante ele ele estava bufando de tanta força que fez (fazia uff... uff... até biquinho ele fazia pra poder respirar rs). No transporte achei que não fosse conseguir controlar o cachorro, mas ele se manteve bem. A entrada foi novamente forte no transporte pelas costas. Ele nunca fica em pé na condução lateral, acho que estava tão alto e por isso ficou na mola nesse exercício.
Pra levá-lo por lançado também não foi fácil, mas ele não se descontrolou e eu não precisei dar nenhum comando adicional.
Realmente me impressionou a entrada dele no lançado, foi muito forte, eu consegui ouvir a porrada dele na luva, lá do início do campo. Não tive problemas com o larga. Já no segundo larga, após o reataque do lançado, achei que ele não fosse largar pois o figurante já não tinha mais força pra colocar ele pra frente, mas por fim deu tudo certo.
Os 95 na proteção valeram muito pra mim, aliás pro cachorro, pois ele que é bom e não eu.. rs. Muita gente veio falar comigo enquanto eu saía do campo: treinadores, pessoas do público que estavam assistindo, pessoal da organização... todo mundo aplaudindo e fazendo ok. A sensação é indescritível.
Saindo da proteção, pessoas de diversos países vieram perguntar de filhotes dele e acasalamentos pra comprar. Inclusive soube que 16 pessoas tentaram comprar um filho do Arco de uma finlandesa, um cão de cerca de 1 ano, mas ela disse que não venderia pra ninguém! rs.
Achei engraçado 2 casos, uma mulher da organização com cara de brava (essa mesma pessoa estava na sala de reunião no dia dos sorteios dando bronca em todo mundo pra poder organizar a sala rs) veio sorrindo e dizendo "parabéns, foi realmente bom". E outro foi uma pessoa que veio falar comigo dizendo que não gostava de PA, que gostava de mali, mas que se eu quisesse poderia deixar o Arco na casa dela (rs).
O Arco foi mencionado pelos 2 figurantes como o melhor cão de proteção do mundial. Por conta disso fui entrevistado por uma revista finlandesa. Muito legal!
Ah, isso rendeu alguns acasalamentos por lá.
Estou certo que nunca mais terei um cão como ele na proteção.
O fato do Arco ter sido mencionado como o melhor cão de proteção do mundial pelo segundo ano consecutivo só vem a confirmar meu acerto na compra.
Separei alguns comentários de alguns treinadores e figurantes da europa:
Roger Snollaerts: "ele me lembra o meu cão Orry, procura sempre ter a mordida perfeita"
Bert Aerts: "O Arco foi o melhor cão de proteção que treinei em toda minha vida. Ele dá 100% dele em todas as mordidas, mesmo que você faça 100 mordidas em 1 treino, todas são igualmente fortes"
Robbie de Jong (figurante Wusv 2004): "na minha vida toda como figurante só vi 1 cão morder com a força que ele morde. Ele pressiona muito antes de largar, impressionante"
Vincenzo Magnati (figurante Wusv 2009): "foi o único cão que me deu trabalho na proteção, melhor proteção do mundial sem dúvida"
Esa Tapio e Juha Korri (figurantes FCI 2010): "Arco é o cão que vai ficar em nossa memória como melhor cão de proteção do mundial."
Eu comprei o Arco para usar no programa de criação do meu canil, por ter gostado muito dele, das atitudes dele, e pelos filhos dele que vi. Como achei que ele também é um cachorro muito legal para competir decidi participar do mundial, somente por divertimento mesmo. Como todos sabem não fui eu quem treinou ele. Estou comentando isso porque algumas pessoas não entendem o motivo de alguém comprar um cão pronto (sem problemas) e competir com ele. A propósito, eu não compraria uma mercadoria com defeito, então também não tenho motivo pra comprar um cão com problemas... rss. Eu não comprei o cão para fazer o meu nome e nem fui pro mundial pra me promover, é "just for fun"!!! rss
Quem tiver condições de treinar ou comprar um bom cão, esteja ele pronto ou não, pode acreditar que se o cão for realmente bom, vale a pena. Em um campeonato você vai se divertir bastante - e nos treinos também.
Sobre o mundial FCI:
Não vi problema algum em um pastor alemão competir com um malinois, ou qualquer outra raça. O que importa mesmo é o indivíduo. Também não vi nenhum tipo de preferência dos juízes por qualquer raça. Sobre os figurantes, não vi diferenças da figuração de acordo com essa ou aquela raça, cada um deles fez o trabalho dentro do seu estilo. Na proteção do campeonato finlandês de pastor alemão que aconteceu 1 semana antes do mundial, a figuração foi a mesma, e acho que quebrar 4 bastões durante um campeonato não tem nada de leve.
Não poderia deixar de finalizar agradecendo a minha equipe e amigos:
Kathleen Schwab, Leandro Magalhães, Melissa Batalha, Rogério Sandoval, Cristine Dias, Ferreira, Otacílio Araujo "Ceará", Eduardo Bertolucci, Flávio Antunes, Eduardo Carrera, Jaques Oliveira, Gilson Alves, João Batista, Marcelo Segalina e Victor Saad.
Aos treinadores e amigos que me ajudaram na europa:
Bert e Nicole Aerts, Peter e Daniela Verachtert, André Voss, Vincent Honselaar, Ronny van den Berghe e Jessen Tomas.
e... até o próximo campeonato!
PARABENS!!!!!!!!
ResponderExcluirAno q vem tamo la... :)
bjo